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TIPOS DE RELACIONAMENTOS ABERTOS

    CAP. 4 – TIPOS DE RELAÇÃO NÃO-MONÓGAMA

    Um caso extramarital

              A autora não gosta dos termos “infidelidade” ou “adultério”. Pois a infidelidade é algo “feito contra mim”, quando, na verdade, é algo feito pelo bem da própria pessoa. Prefere “violação de confiança”, que acontece entre duas pessoas. E é menos pesada para a “vítima”.

              Certamente é mais comum do que a monogamia.

              Um elemento desestabilizante e traumatizante da traição é que a pessoa traída para a duvidar de si mesma, em vários sentidos.

              Na França, menos da metade das pessoas pensam que trair é imoral. Em países islâmicos, mais de 90%.

              Mesmo se pegarmos as taxas mais baixas, parece impossível que milhões de pessoas estejam sofrendo de um transtorno que necessite terapia. “Não é um problema individual. É um problema social.”

              Para algumas pessoas uma relação aberta não interessa – porque elas querem fazer é o que é errado.

              Algumas pessoas, quando entendem o que as move, encontraram outra maneira de preencher suas necessidades.

              Há pessoas que simplesmente não se importam com seu parceiro ou racionalizam os motivos para a traição – e vivem em paz com seus casos.

              Outras criticam os relacionamentos abertos, dizendo que causam dor desnecessária.

    Por que as pessoas têm casos ao invés de abrir o relacionamento?

              Geralmente por medo – inclusive o de o parceiro achar boa a ideia. Assim não preciso lidar com meu próprio ego, possessividade e ciúmes. Mentir é mais fácil. E todos pensam que não serão descobertos.

              Alguns terapeutas pensam que uma relação pode sobreviver a uma traição – mas não a um relacionamento aberto. Interessantemente, a traição é mais normalizada do que colocar as coisas na mesa. A infidelidade preserva a norma social da monogamia. “Pelo menos a traição é uma tentativa de monogamia”, dizia uma reportagem.

              De acordo com o mesmo Freud, a repressão sexual leva a neuroses. Se juntarmos os pontos: a infidelidade ajuda a manter nossa sanidade mental e salvar a sociedade.

    Infidelidade dentro de um relacionamento aberto

              Há relacionamentos abertos onde um decide o que o outro pode ou não. Há pessoas que simplesmente têm medo, como se ainda vivesse dentro da monogamia.

              Não é fácil nos livrarmos de amarras antigas.

              A autora recomenda a palestra de Perel: Esther Perel: Repensando a infidelidade…uma palestra para quem já amou | TED Talk. Esta diz que, uma vez que um caso é descoberto, o seu relacionamento antigo acabou, nunca mais será o mesmo.

              Uma das consequências para quem trai é que estará crescendo longe do seu parceiro, pois te obriga a usar uma máscara.

              Para quem é traído, sua liberdade de escolha foi roubada – enquanto ela se permite a liberdade de ser infiel.

              Com a tecnologia, trair ficou muito mais fácil. Assim como ser descoberto.

              A autora espera que seu livro seja uma opção à infidelidade ou à separação.

    Tipos de relações não-monogâmicas consensuais (NMC)

              As relações NMC são ridicularizadas.

     – “Não pergunte, não fale”

              Dificuldade: a “mentira consentida”.

    – Monogamish

              Termo criado por Dan Savage. 

              Por exemplo, adicionar um parceiro extra, ocasionalmente, à cama.

    – Swing

              Mais comum tipo de NMC.

              Admitir que é um swingueiro é mais difícil do que poliamor. A busca de sexo por sexo é vista como imoral. Sodoma e Gomorra.

    – Relação aberta

              A definição exata é confusa.

    – Poliamor

              Vários tipos.

              – Poliamor-grupo não hierárquico

              Potenciais vários problemas, inclusive legais.

              – Poliamor hierárquico

              O mais típico, entre casais que abandonaram a monogamia.

              – Poli-solo

              Uma pessoa, geralmente solteira, relacionando-se com várias ao mesmo tempo.

    Anarquistas dos relacionamentos

              Atualmente, e isto é muito novo, a amizade dentro de um relacionamento é vista como algo secundário. O que é necessário é a paixão.

              Robert Sternberg divide o amor romântico em três componentes: paixão, intimidade e compromisso.

              Quando resta apenas o compromisso, chama de “amor vazio” – que seria característico do final de uma relação, mesmo que ainda dure anos.

              O amor “completo” é uma percepção atual – os vitorianos ficariam chocados com a necessidade de paixão. 

              O antropólogo Patrick Clarkin pontua que estes três sentimentos diferem, biologicamente, assim irão flutuar, nem sempre irão bater. O problema é que não aceitamos que sentimentos mudam, evoluem.

              Os “anarquistas” irão questionar por que devemos amar mais uma pessoa do que nossos pais, por exemplo. Por que não morar com o melhor amigo? Ou sozinho? Além disto, as relações são fluidas.

              Eve Rickert, autora de “More than two”, resolveu se casar com seu parceiro após um ano e meio sem sexo com ele – viram que eram ótimos parceiros – e viveriam paixões por fora.

              20% dos casais de longo prazo são assexuais, porém isto não é aceito sem vergonha ou culpa.

    CAP. 5 – RELAÇÕES NÃO-MONÓGAMAS CONSENSUAIS E QUESTÕES SOCIAIS

    Monogamia e moralidade

              Todas as outras opções além da monogamia são vistas como imorais – sinais da decadência de nossa sociedade.

              Porém, se tudo é consensual, imoral onde?

              Toda a moralidade relativa ao sexo (recato feminino, virgindade) visa, no fundo, controlar especialmente a sexualidade da mulher.  

              O propósito da moral é trazer ordem à sociedade. Porém traz também muito sofrimento individual.

              Em alguns estados americanos, sexo anal e oral eram proibidos por lei até 2003. No Alabama é proibido, ainda, a venda de brinquedos sexuais – porém um vibrador pode ser comprado com prescrição médica.

              Pessoas em RNMC geralmente têm uma visão positiva do sexo.

              Paradoxalmente, o sentimento mais nobre, o amor, só pode ser devotado a uma pessoa.

              Para os RNMC, há outros valores morais, como a honestidade e entender a liberdade do outro.

              A autora questiona o altar da honestidade. Não temos permissão de ter um mundo só nosso? Nunca nos preocuparmos se vai machucar o outro? Talvez mentir seja mais “natural” – o que somos.

              Quando se abre um relacionamento, os demônios mais profundos precisam ser encarados.

              O novo normal é a monogamia serial. O poliamor, aponta Jenkins, desafia o controle sobre as mulheres e a percepção do outro como propriedade privada.

    Descobrindo que você é não-monógamo em uma sociedade monógama

              Talvez não seja uma boa ideia adiar a informação no início de um relacionamento. O outro se sentirá enganado.

              Mulheres e homens não são vistos como “sérios”, “capazes de comprometimento”. Para as mulheres ainda sobram alguns adjetivos.

              Pessoas já comprometidas estejam preparadas para o caos. A sociedade irá ficar do lado da outra parte. Por medo de dizer, muitos preferem trapacear.

              “Você não pode bloquear os desejos, necessidades e urgências de uma pessoa. Isto é inefetivo. Isto leva a eventuais mentiras ou separação – isto é, a tudo que você teme e tenta evitar dizendo ‘não’. Quando deixamos nossos medos nos controlarem, eles usualmente se manifestam na realidade.”

    Vivendo um relacionamento aberto desde o início

              Nem sempre um RA irá surgir de uma falta dentro de um RLP. Às vezes as pessoas já sabem de antemão o que querem: liberdade. E talvez nunca precisamos nos enfastiar de nosso parceiro. Aliás, talvez nunca precise entrar um terceiro – eu só queria saber que eu tinha esta garantia de liberdade.

    RNMC e mudanças sociais

              Um artigo para a justiça federal americana, escrito em 2015, contra o casamento polígamo, aponta que, para a sociedade, a monogamia é o sistema ideal. Os homens trabalharão ao invés de procurar mulheres, não brigarão entre si etc. Se Henry Ford estivesse atrás de mulheres…

              O direito matrimonial envolve 1138 artigos, nos EUA. Realmente seria bem confuso manejar isto. Entretanto já estamos tendo de lidar com a monogamia serial. E lidar também psicologicamente com várias questões, como: quem estará lá, na nossa doença ou velhice?

              O Facebook já aceita a opção “em um relacionamento aberto”. Muitas mudanças estão no ar, como a aceitação de casais que não querem filhos etc.

              As coisas não mudarão muito para os RNMC, entretanto, enquanto estiverem, em grande parte, no armário.

              Entretanto há rusgas entre os grupos, p. e. críticas entre swingueiros e poliamoristas.

    A não ser os poliamoristas e os anarquistas, ninguém está realmente questionando a monogamia. LGBTs querem se casar – como os hétero. Todo mundo quer ser normal, quer pertencer à norma.

              Devemos mudar a norma? Em alguns aspectos, sim:

    – atitude positiva com o sexo

              Até poliamoristas querem falar que é… amor, e não sexo. E pedem para a autora parar de falar de sexo.

    – casamento e divórcio

              Casamos muito jovens e não podemos mudar de opinião. Não temos o direito de errar. Nem o direito de modificar o relacionamento por dentro. É um jogo de soma zero.

              Há mesmo alguma necessidade de casamentos institucionalizados?

    – casais

              Por que, em certos aspectos, três, quatro – ou mesmo a solidão – não podem ser melhores?

    – monogamia consciente x coercitiva

              Uma pessoa pode ser/estar/sentir-se monogâmica – isto não implica que o outro está na mesma sintonia.

              Obviamente, eventualmente há a não-monogamia coercitiva – aceita por medo.

              Na nossa sociedade, o default de um relacionamento são obrigações e proibições. É uma falta de respeito à autonomia do outro – e acabará levando a cheating, separação.

              Às pessoas deveria ser permitido tudo – é uma concepção moral. Podemos até pedir que ela renuncie a algo – e ela pode escolher renunciar.

              O outro tem de estar conosco (mesmo que seja para ver um filme) porque quer, não porque é “obrigado”.

    – libertação dos papéis de gênero fixos

              Mulheres em RNM geralmente se sentem mais empoderadas – especialmente quanto às suas escolhas sexuais.

              E os homens costumam se sentir mais comunicativos e conectados com as suas próprias emoções. É uma necessidade.

              Estes ganhos poderiam ou deveriam existir em relações monógamas.

    Estigmas sociais envolvendo RNM e sua refutação por pesquisas

              Um estudo mostrou que pessoas em relações monógamas são vistas como mais confiáveis, menos entediadas, mais independentes etc.!

              Pessoas em RNM são vistas até como menos prováveis de reciclarem seu lixo.

              As pesquisas mostram, entretanto, que em muitos aspectos os dois tipos são iguais e que, em outros, a RNM é melhor.

              Embora não existam estudos recentes comparando a duração, as relações não acabam por conta do tipo dela, mas da qualidade dela.

              Também não é verdade que os praticantes de RNM costumam ser de classes mais altas. (Assim como a infidelidade é igual entre ricos e pobres, brancos e negros.) Embora uma relação poli possa ser vantajosa, economicamente.

              Testes psicológicos mostram que pessoas em RNM não são mais perturbadas do que a média. Na verdade, podem ter algumas habilidades emocionais a mais. Geralmente são mais criativas, inconformistas – porém, surpreendentemente, mais individualistas.

              Uma RNM, assim como uma monógama, pode se estabelecer pelas razões erradas: medo da solidão, medo de conexão, baixa auto-estima, vício em sexo etc. Assim, não é o tipo de relação, mas o motivo que leva a pessoa àquele tipo.

    – A escada rolante dos relacionamentos e as percepções dos relacionamentos em nossa sociedade

              Existe todo um escalar esperado em um relacionamento, do primeiro “eu te amo” ao casamento e filhos. De coisas óbvias a expectativas mais sutis.

              Os anarquistas do amor não precisam “ir” a lugar algum – querem apenas “existir”, como um viajante em um local “não turístico”.

              Monógamos procuram a pessoa perfeita. Já os RNM vêm seus parceiros completarem-se.

              O que as RNM, seja como forem, mesmo que apenas sexo, têm em comum, é presença e conexão.

    RNM e crescimento pessoal

              Os relacionamentos monógamos também são oportunidade de crescimento, porém os RNM trazem muito mais questões. Necessariamente trazem um espelho para o que está defeituoso na relação.

              Apenas adicionar mais alguém não resolve o que está problemático em uma relação.