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REPENSANDO O NARCISISMO

    Resumo o livro RETHINKING NARCISSISM

    Dr. Craig Malkin

    INTRODUÇÃO

    O autor lutou para entender se a mãe se tornou ou sempre foi narcisista. Pois quando era nova e bonita era alegre e cuidadosa; depois mudou.

    Até que teve um insight: o narcisismo é um “hábito” que as pessoas usam para se confortar.

    E um segundo: o narcisismo não é de todo mau.

    Algum grau de narcisismo é até vital para todos nós. Sentirmo-nos especiais pode nosso tornar parceiros ou líderes melhores.

    O objetivo do livro é que você se conheça melhor.

    Como clínico, o autor acredita firmemente que todos podem evoluir.

    O MITO DE NARCISO

    Filho de um deus e de uma ninfa, Narciso era muito belo e tinha muitos admiradores.

    Acostumado à bajulação, ele se tornou indiferente a ela. Todos os pretendentes eram rejeitados.

    Um dia a ninfa Eco o viu na floresta e se apaixonou. Passou a segui-lo. Ele a descobriu e a humilhou.

    Um homem, Ameinias, ficou tão perturbado quando Narciso rejeitou seus avanços que desembainhou uma espada e se atravessou. Mas antes disso, ele sussurrou uma oração à deusa da vingança, Nêmesis.

    Narciso provaria da dor que causava.

    Então se apaixonou no próprio reflexo. E mergulhou…

    Um bela flor nasceu à margem do lago.

    PARTE 1 – O QUE É O NARCISISMO

    1 – REPENSANDO O NARCISISMO: VELHOS PRECONCEITOS, NOVAS IDEIAS

    Narciso ficaria orgulhoso do quanto a palavra “narcisismo” se tornou popular.

    Isto acaba por enfraquecer seu significado, podendo ser utilizada como um simples xingamento.

    Vivemos em uma “epidemia de narcisismo”, segundo alguns. Narcisismo não é apenas vaidade e busca por atenção, entretanto.

    Mesmo na clínica pode haver conflitos: para alguns, um traço muito comum; para outros, uma desordem rara e muito grave.

    De toda forma, quase todos concordam que é sempre destrutivo. Porém isto não é verdade.

    As histórias assustadoras são apenas a ponta do iceberg.

    O drive para se sentir especial é normal, é uma tendência humana pervasiva.

    Há muita evidência de que a maioria das pessoas está convencida de que é melhor do que quase todo mundo. “A maioria das pessoas não se vê como mediana e comum; se vê como excepcional e única”, concluiu Jonathan Brown.

    Um ego levemente inflado tem seus benefícios. As pessoas que se veem acima da média são mais sociáveis, felizes, saudáveis etc. Sobreviventes de tragédias como o 11 de Setembro que se veem assim lidam melhor com o futuro.

    Já os pessimistas sobre si mesmos, embora mais próximos da realidade, sofrem mais de depressão etc.

    Estas conclusões vão contra o que se pensa sobre o narcisismo.

    O problema está no grau de narcisismo.

    Aliás, de longe, o maior preditor do sucesso de um relacionamento é a nossa tendência a ver nossos parceiros como melhores do que realmente são. O autor chama isto de “sentir-se especial por aproximação”. Pesquisa conduzida por Benjamin Le e Natalie Dove demonstrou isto.

    O verdadeiro narcisista, entretanto, precisa ser o mais bonito do par.

    No seu pior, além do egocentrismo, apresentam dois traços que compõe a tríade negra: tendência à manipulação e ausência de remorso.

    Pouco narcisismo, entretanto, é danoso – Eco nem mesmo voz tinha.

    Outro mito é que o grau de narcisismo não varia. Os narcisistas mudam, sim, de acordo com as circunstâncias da vida: desemprego x promoção, maternidade x aborto etc.

    Mas estes picos e vales não duram para sempre.

    Outro mito é que narcisistas podem ser facilmente detectados. Mesmo os mais graves podem passar desapercebidos. Os moderados, então, podem viver uma vida inteira sem ser desmascarados.

    De fato, os mais graves – 1 a 3% da população – podem ser imutáveis.

    Mas o narcisismo “comum” é um hábito, uma resposta aprendida.

    Os narcisistas não querem demonstrar fraqueza com medo da reação de seus pares.

    Os pares podem ajudá-los – a começar por se mostrarem vulneráveis.

    2 – CONFUSÃO E CONTROVÉRSIA

    COMO O NARCISISMO SE TORNOU UMA PALAVRA SUJA E ENCONTRAMOS UMA EPIDEMIA

    – O nascimento do narcisismo

    Aristóteles, 350 aC, afirmou que “O homem bom é particularmente egoísta.” O budismo disse que o self é uma ilusão.

    O cristianismo transformou o orgulho em um pecado. E um excesso de self leva aos outros pecados.

    Para Hobbes, o egoísmo é parte da natureza bruta do homem. Para Adam Smith, a ambição é boa.

    No fim do século 19 apenas o debate foi absorvido pela medicina, quando em 1898 o sexólogo britânico Havelock Ellis descreveu pacientes apaixonados por si mesmos, uma doença “como a de Narciso”.

    Um ano depois, o médico alemão Paul Näcke utilizou o termo “narcisismo” para tais “perversões sexuais”.

    Mas foi Freud, em 1914, que tornou o termo famoso, com o artigo “Sobre o narcisismo”. O descreveu, entretanto, sem conotação sexual – na verdade, como um estágio necessário do desenvolvimento infantil. No chamado “narcisismo primário”, vemos o mundo girar em torno de nós.

    Para os adultos, o narcisismo poderia ser bom. Líderes podiam fazer bom uso dele.

    O narcisismo e o amor podem andar de mãos dadas. Parceiros românticos podem se ver em um pedestal acima do resto do mundo.

    Por outro lado, o narcisismo pode descambar para a megalomania.

    Heinz Kohut e Otto Kernberg, ambos psicanalistas austríacos que teriam de abandonar seu país por conta do nazismo, iriam debater sobre o bem ou mal do narcisismo décadas depois.

    – O nascimento do narcisismo bom

    Kohut, nos anos 70, fundaria a Psicologia do Self. Para ele, não são o sexo a agressão que nos movem, mas sim a nossa necessidade de desenvolver um sólido senso de self. Precisamos do narcisismo.

    Freud entendia a necessidade de aprovação como sinal de imaturidade.

    Para Kohut, o problema se dá quando a criança não é amada. Ela passa a buscar desesperadamente por isto – e se torna patologicamente narcisista: frágil por dentro, arrogante por fora.

    Os normais utilizam o narcisismo a seu favor. Como criar uma grande obra se não nos achamos capaz disto? As grandes criações da humanidade são resultados de uma doença mental?

    A visão de Kohut influenciou o DSM 3.

    – O nascimento do narcisismo mau

    Enquanto Kohut via até o narcisismo patológico sob uma lente benevolente, Kernberg enxergou a maldade e o perigo.

    Na opinião de Kernberg, os narcisistas, na sua forma mais destrutiva, são massas de ressentimento fervilhante – os monstros de Frankenstein, grosseiramente remendados a partir de pedaços disformes de personalidade. Eles falharam tão horrivelmente quando crianças, por negligência ou abuso, que seu objetivo principal é evitar se sentirem dependentes novamente. Ao adotarem a ilusão de que são seres humanos perfeitos e autossuficientes (e que os outros estão abaixo deles), eles nunca mais terão que temer se sentirem inseguros e sem importância novamente.

    Aos piores, chamou de “narcisistas malignos”.

     Acreditava, entretanto, que eram passíveis de cura. O primeiro passo era confrontá-los com a verdade do perigo que são. A empatia proposta por Kohut era, no mínimo, ingênua.