POR QUE ELE/ELA? COMO A BIOLOGIA EXPLICA A PAIXÃO
Quando nos sentimos fortemente atraídos ou apaixonados por alguém, uma enorme cascata de eventos ocorre em nosso cérebro.
Cientistas já conseguiram decifrar boa parte do que acontece – mas muito ainda há a ser esclarecido.
O que estes estudos mostram, contudo, é o que está acontecendo quando já estamos interessados em alguém. Eles não explicam por que esta pessoa, e não outra, despertou isto em nós.
A Psicanálise tenta explicar. Os cientistas, entretanto, comumente rejeitam a Psicanálise, pois suas hipóteses não podem ser adequadamente testadas. E o que não pode ser nem testado não é científico.
Uma menina tem um pai excelente. Quando adulta, casa-se com um homem parecido fisicamente com seu pai. O seu psicanalista pode dizer que ela procurou no marido a figura do pai.
Uma outra menina tem um pai seco e agressivo. Quando adulta, casa-se com um homem parecido fisicamente com seu pai, porém bom, atencioso. O seu psicanalista pode dizer que ela quer, com este marido, reconstruir a figura paterna.
Uma terceira menina foi criada sem pai. Torna-se lésbica. Segundo o seu psicanalista, aprendeu, sendo criada pela mãe, a amar mulheres.
Uma quarta também foi criada sem pai. Mas não se torna lésbica. Pelo contrário, casa-se com um homem másculo – e mais velho. Obviamente, segundo o seu psicanalista, ela procura restituir a figura paterna ausente.
Na vida real, psicanalistas não são tão levianos e oferecem explicações tão rasas assim. Contudo, a Psicanálise cria, sim, situações em que o mesmo início explica finais diferentes ou em que finais iguais são explicados por causas diferentes. Isto, definitivamente, não é Ciência.
(Devo dizer que, apesar da crítica acima, particularmente gosto da Psicanálise e acho Freud um dos maiores gênios dos nossos tempos. Entretanto este não é um livro de especulações, e sim da ciência do amor.)
A Ciência, ao contrário da Psicanálise, pode testar e prever. Ela talvez tenha algo a nos dizer sobre o porquê de nos apaixonarmos em algumas pessoas e não em outras.
Inúmeros trabalhos já foram feitos, de fato, cada um detalhando um pouco mais nossa compreensão sobre o que gera a atração.
Por exemplo, homens acham mais atraentes mulheres com uma razão cintura/quadril (RCQ) por volta de 0,7. Se a mulher tem 70 centímetros de cintura e 100 de quadril, a razão (70 dividido por 100) é exatamente 0,7. Se ela tem 70 cm de cintura e 85 cm de quadril, a razão é 0,82. Por outro lado, se suas medidas são 70 e 120 cm, respectivamente, a medida é 0,58.
Antes que se fale em machismo, patriarcado, influência das revistas, da televisão e da internet: em várias culturas já foi observada esta preferência. E isto não depende do peso ou altura da mulher. Se um homem for apresentado a fotos de três mulheres com 90 quilos, ele provavelmente gostará mais da que tem a RCQ de 0,7.
As mulheres também têm suas preferências físicas, como homens com ombros largos em relação a suas cinturas – um tronco em formato de “fatia de pizza”.
Não é que todo homem vai preferir uma mulher com RCQ 0,7, se no mais elas forem iguais a tudo. Uns preferirão as mais bojudas; outros, as mais “retas”.
E, nem seria necessário dizer, isto está longe de ser a única coisa que um homem seleciona em uma mulher. Mas é como se, para os que prefere as com RCQ 0,7, as que têm esta razão já ganham um ponto.
POR QUE ELE/ELA? A PSICOLOGIA EVOLUTIVA E O AMOR
Embora vários dos aspectos da atração possam ser explicados de maneira geral pela Neurociência, o fato é que a atração não acontece “escondida” dentro de nosso cérebro – ela se passa, ao mesmo tempo, em nossa mente. Estamos conscientes de que estamos atraídos por aquela pessoa.
Como já dito, a Psicanálise irá tecer explicações sobre cada caso individual de paixão, mas as conclusões serão muito contestáveis.
Um ramo da Psicologia que oferece explicações um pouco mais sólidas, embora mais genéricas, é a Psicologia Evolutiva.
Ela dirá, por exemplo, que os homens tendem a preferir uma mulher com RCQ 0,7 porque, inconscientemente, para eles, isto é um sinal de fertilidade. Quando evoluímos, como espécie, o quadril das mulheres precisou se alargar para permitir, durante o parto, a saída de um menino “cabeçudo”, com cérebro maior do que dos nossos parentes chimpanzés etc. Os homens que escolhiam mulheres de quadril estreito viram suas mulheres e/ou filhos morrerem na hora do parto. Assim, sem deixarem muitos descendentes, foram sobrando na humanidade apenas filhos de homens que gostavam de mulheres de quadris mais largos. Estes filhos, como os pais, possivelmente preferiam mulheres de quadris mais largos etc.
“Ah, mas hoje temos cesariana!” Sim, porém nosso cérebro e nossa mente foram moldados por milhões de anos de evolução e não será um procedimento cirúrgico inventado há pouco tempo que mudará isto. Não por agora.
“Ah, então por que os homens não preferem mulheres com RCQ maior do que 0,7?” Porque embora todas as com RCQ de 0,7 ou mais possam ser boas “parideiras”, talvez entre em jogo a questão estética – um RCQ muito maior do que 0,7 pode tornar o quadril da mulher desproporcionalmente grande e pode ser que a maioria dos homens da caverna não achasse isto tão atraente. Inúmeros estudos em várias culturas já mostraram que o que homens e mulheres acham bonito é a simetria, a proporcionalidade. Não é porque homens gostam de seios que acharão bonita Mayra Hills, alemã que após injetar sabe-se-lá quantos litros de silicone, alegou ter os maiores seios do mundo.
Para uma boa parte, se não a maioria, dos homens, Mayra não ganha ponto com estes seios – perde! As mulheres de RCQ 0,8 ou mais não chegam a perder – longe de compará-las com Mayra, utilizada apenas como um exemplo extremo de como a falta de proporcionalidade pode matar a atração.
Porém as mulheres de quadril desproporcionalmente grande talvez não ganhem aquele “ponto cheio” que as de RCQ 0,7 ganham com a maioria dos homens. Talvez ganhem meio ponto. É o suficiente para permanecer no jogo, ainda. No jogo da sedução o importante é não levar uma nota negativa em nenhum quesito essencial.
Poucos ml de silicone a mais podem levar uma mulher de “lábios carnudos” a um “bico de pato”…
POR QUE ELE/ELA? O PODER DA BELEZA ETC.
Observe que quando falamos da Psicologia Evolutiva, ela sempre trará explicações que começarão com frases como “os homens em geral preferem (…)”, “as mulheres comumente buscam (…)” etc.
Isto é, a Psicologia Evolutiva nos explica como espécie, não como indivíduos. Em geral, os homens acham mais atraentes mulheres com RCQ 0,7. Mas nem todos! Porque aquele homem ali costuma achar mais bonitas as mulheres com RCQ 0,6?
Somos uma espécie muito complexa. Fatores culturais entram em jogo. E não apenas: a criação, a infância, podem sim ter um efeito modelador sobre nossas preferências e aversões.
Aí sim, talvez a Psicanálise possa desenterrar algumas explicações válidas. Na casa daquele homem, quando ele era adolescente, trabalhava uma diarista magra e “sem quadril”. Um dia ela o seduziu e ele viveu sua primeira experiência sexual. Na verdade, tiveram um caso por dois anos, transando quase todos os dias, até que sua mãe descobriu e a demitiu. Ela sumiu. Ele sofreu por um tempo, mas conseguiu transformar a dor em boas lembranças. Ele nunca nem percebeu isto, mas daí em diante quase todas as suas namoradas eram magras e com uma RCQ baixa.
Ok, Freud explicou de uma forma que parece convincente…
Mas, novamente – a mesma situação poderia levar a resultados completamente diferentes. Este homem poderia preferir mulheres com RCQ muito alta – talvez para evitar relembrar a dor daquela primeira paixão.
A verdade, a verdadeira verdade, é que a espécie humana é extremamente complexa. Outros animais vêm programados de uma maneira muito mais simples. Os gansos recém-nascidos do biólogo Konrad Lorenz, sem poderem ver suas mães, pensavam que o pesquisador é que era a mamãe-ganso e o seguiam para onde ele ia.
Não somos tão tolos. Nem muito mais espertos. Estamos vulneráveis a influências que nem mesmo imaginamos.
Daí que é bastante complicado explicar porque uma pessoa se apaixona especificamente em outra.
Talvez seja melhor começarmos por quem não nos apaixonamos. Se você é homem, heterossexual, metade da humanidade (os outros homens) já está excluída das possibilidades. Sobram todas as mulheres.
Se você é um homem normal, também estão excluídas as meninas de pouca idade. Se é um homem comum, provavelmente também não se interessará por mulheres com idade igual ou acima da idade de sua mãe.
E por aí vamos…
Mas mesmo que apliquemos vários filtros de “não”, ainda assim sobram muitas mulheres!
O grande critério de seleção para os homens, muito mais importante do que a RCQ, é a beleza.
(A Psicologia Evolutiva explica: beleza = sinal de saúde = filhos saudáveis.)
Mas não é o único critério. Não somos tão fúteis assim!
A beleza, claro, é relativa. Está nos olhos de quem a vê. Embora existam padrões universais, cada um de nós tem um padrão, um critério, um julgamento – e aí a Psicanálise pode voltar novamente: “Que coincidência, todas as suas namoradas tinham cabelo cacheado, como a sua querida mãe!”
E embora você possa achar feia a namorada do seu amigo, é quase certo que, se ele está apaixonado nela, ele a acha bonita. Se ele tem noção de que, para os padrões culturais, ela não é bonita, ele ao mesmo tempo se julga capaz de uma percepção especial, pois vê nela uma “beleza exótica” que poucos enxergam.
A beleza atrai; a feiura é aversiva. (Psicologia Evolutiva: feiura = sinal de doenças na infância, genética ruim = filhos doentes.)
Em relação às mulheres, é um pouco mais complicado explicar seus critérios de seleção porque elas têm dois padrões, dois filtros: quando estão ovulando, preferem homens mais “brutos”, másculos etc. No restante do ciclo menstrual, homens mais cuidadosos, atenciosos etc.
(Psicologia Evolutiva: “bruto” = líder, bons genes; “cuidadoso” = bom pai.) E este é o motivo (apenas um dos motivos) que muitos homens comprometidos reclamam que suas mulheres parecem cronicamente insatisfeitas com o relacionamento.
Embora a beleza seja um filtro importantíssimo para os homens, ela não explica por que um homem não se apaixona em todas as mulheres bonitas que vê pela rua.
Agora começamos a entrar em explicações biológicas e psicológicas mais individualizadas.
O próximo filtro é o da disponibilidade e proximidade: “Tenho uma chance com esta mulher?” Embora algumas pessoas mais perturbadas se apaixonem, de verdade, por atrizes e cantores, isto é relativamente raro. Encantar-se, admirar, é bem diferente – sabemos da distância e que “Ela/e nunca daria moral para mim.”
Por disponibilidade entenda-se também: que a outra pessoa esteja solteira. Isto já desativa preocupações que teríamos se ela fosse comprometida.
Estar disponível e próxima não basta, contudo: a pessoa pela qual nos apaixonamos geralmente nos dá alguma chance. Ao menos na nossa cabeça. Homens gostam de acreditar que um sorriso vindo de uma mulher é sinal de disponibilidade – e por isto muitas preferem parecer mal-educadas e não sorrirem para quase nenhum homem.
Mas a paixão não costuma nascer de um único sorriso. É preciso um pouco mais, vindo da outra pessoa. Alguns sorrisos, uma risada. Um toque. Uma curtida em uma foto do Instagram.
A bomba está armada e vai explodir. Ela é bonita, bem-humorada, disponível e me deu uma brecha!
Ela é a mulher! Este pensamento passou pela sua cabeça e – bum! Feniletilamina é liberada no seu cérebro: você se sente apaixonado.
A feniletilamina promove a liberação de outras substâncias e, bem, agora a sua única meta é conquistar o seu “troféu” particular: o amor daquela pessoa.