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O SURGIMENTO DO AMOR

    CAP. 12 – QUASE HUMANOS (Gêneses do parentesco e da adolescência)

              Com o fogo podíamos afastar predadores. Podíamos caçar melhor. Podíamos ficar em um só lugar. Podíamos conversar à noite.

              E, claro, podíamos cozinhar.

    Para Darwin, exceto a linguagem, o fogo foi provavelmente a maior façanha do homem.

    Cozinhar aumentou drasticamente o valor energético dos alimentos. As crianças ficaram mais saudáveis. Vivemos mais.

    E nosso cérebro evoluiu.

    O nosso, atual, consome 20% de nossa energia. Para tanto, precisamos de intestinos menores e mais eficientes.

    O antropologista Richard Wrangham propôs que o ato de cozinhar nos trouxe à modernidade evolutiva.

    Não se sabe exatamente quando dominamos o fogo. Em volta do lago Turkana, no Quênia, há restos que remontam a cerca de 1,5 m. a.

     Nossa fraca mandíbula evoluiu da comida mais mole. Este gene talvez tenha se proliferado há 2,5 m. a.

    Nascia o Homo erectus.

    Seus fósseis, de 1,9 a 1,8 m. a., foram encontrados em Olduvai (Tanzânia), Koobi Fora (Quênia), vale do rio Ono (Etiópia).

    – O garoto de Nariokotome

              No sítio de Nariokotome, próximo ao lago Turkana, no Quênia, morreu um garoto, há cerca de 1,6 m. a., com cerca de 12 anos.

              O cérebro dos H. erectus (HE) chegaria a 1200 cm3.

              Os chimps “entendem” o fogo. Gostam de cigarros, em cativeiro. Na selva, gostam de acompanhar uma queimada.

              HE desenvolveram ferramentas sofisticadas. Maiores, mais detalhadas – os machados de mão Acheulianos – descobertos primeiramente em Saint-Acheul, na França!

              HE começaram de fato a nossa vida de caçadores-coletores.

    – Nascido muito novo

              Muitos antropologistas acreditam que o crescimento de nosso cérebro trouxe uma complicação inesperada. Nossa grande cabeça não passava mais pela pelve da mãe. Isto aconteceu, estima-se, quando nosso cérebro adulto chegou a 700 cm3 – isto é, provavelmente com o HE. Isto é chamado de “o dilema obstétrico”.

              A solução da natureza foi fazer com que nasçamos “prematuros”.

              Todos os primatas parem imaturos (altriciais) bebês, com o grau de altricialidade aumentando de macacos para humanos. Os nossos nascem ainda mais imaturos do que nossos parentes mais próximos, o que é chamado de altricialidade secundária.

              Enquanto em outros primatas algumas características são adquiridas pouco após o nascimento – isto é, respostas químicas do fígado, rins, sistema imune, sistema digestivo, além de respostas motoras e algumas outras funções cerebrais – o bebê humano leva seis a nove meses para chegar ao mesmo estágio.

              Nossa vida relacional mudou muito com tudo isto. Agora um “amigo especial” era mais do que necessário para a fêmea.

              Aponta a antropologista Wnda Trevathan que aí surgiu a primeira profissão especializada de uma mulher: parteira.

              Avós passam a ser importantes – daí poderia ter surgido a menopausa (“hipótese da avó”).

    – Origem da adolescência

              A análise de ossos e dentes fósseis mostra que há cerca de 800 mil anos o processo de maturação humana tornou-se mais lento. A infância tornou-se mais prolongada.

              Um chimp chega à puberdade aos 10 anos. Garotas entre CC não atingem a menarca até os 16 ou 17 anos, comumente. Atualmente humanos crescem até os 20 anos.

              E os pais os alimentam durante a adolescência. Os chimps juvenis permanecem próximos às mães, mas já cuidam de suas vidas. Mesmo um CC adolescente muito bom não pode se virar sozinho.

              Uma explicação é que agora precisávamos de mais tempo para entender e dominar um mundo mais complexo.

              (Passamos de uma vida instintiva para uma vida lógica.)

              E como agora a formação de pares era mais complexa, também precisamos aprender sobre isto: cortejar, seduzir.

    – Amor fraternal

              Cuidar dos filhos era mais complicado, agora. E isto pode ter ajudado a estabelecer as relações de parentesco.

              Muitas sociedades atuais traçam suas descendências de mães e pais. Porém na natureza isto não é uma regra.

              Entre os babuínos, grupos de fêmeas aparentadas viajam juntas – machos partem para outros grupos após amadurecerem. Isto é, matrilinearidade.

              Entre os chimps, o contrário – isto é, patrilinearidade.

              Um estudo de fósseis de 2 m. a. encontrou indícios de patrilinearidade.

              Porém, entre CC atuais, geralmente os jovens de ambos os sexos são livres para permanecer ou deixar o grupo. Quando se casam, podem viver com a família dele ou dela. Na verdade, frequentemente vivem com os dois grupos, mudando de residência quando querem.

              Ainda assim, alguns CC traçam sua descendência a partir do pai; outros, da mãe; outros, de ambos.

              Com o nascimento do parentesco, tempos depois também devem ter começado a aparecer os tabus.

    – Fora da África

              O HE começou a se espalhar pelo mundo. Há 1,7 m.a. chegaram à Ásia Ocidental; 1,1 m.a., à China.

              Moviam-se não mais que 10 milhas (16 km)  a cada geração.

    – O amor entre HE

              As mães possivelmente precisavam ainda ajudar, como coletoras.

              Ainda não eram humanos, entretanto. Por exemplo, não há amuletos ou sepulturas.