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O PODER FEMININO

    CAP. 11 – MULHERES, HOMENS E PODER (A natureza da política sexual)

              Entre os Igbo, na Nigéria, as mulheres, no casamento, recebiam uma parcela de terra. Nela, cultivavam. E controlavam o mercado. E recebiam dinheiro. Os homens eram mais poderosos, mas elas eram autônomas.

              No começo do século 20 os ingleses estabeleceram ali um protetorado. E não viram a importância das mulheres. Em 1929, elas se rebelaram. Dezenas de milhares delas, na Revolta de Aba (Aba Riots).

              Até os anos 70, os antropologistas simplesmente assumiam que o homem “naturalmente” dominava a sociedade. Assim, simplesmente enxergavam de forma distorcida sociedades primitivas, como os aborígenes australianos – onde, hoje se sabe, aparentemente nenhum sexo domina, embora exista muita divisão nas atribuições.

              Mas muitos estudos não foram distorcidos por sexismo. O que hoje se entende é que em muitas culturas tradicionais as mulheres tinham bastante poder – até a chegada dos europeus. Relatos frescos feitos após as invasões mostravam igualitarismo; estudos mais recentes, poder masculino.

              A influência dos religiosos foi decisiva nesta mudança.

    – O presente

              Os inuítes, Alasca, não têm plantas para coletar. Os homens caçam. Trazem carne, pele, óleo, ossos. As mulheres dependem deles. Mas eles dependem delas para defumar a carne, fazer as roupas etc. Porém as jovens logo aprendem que o essencial é “casar bem”.

              Entre os !Kung, no Deserto de Kalahari, por outro lado, as mulheres são bem mais poderosas, economicamente. Os homens caçam e distribuem o produto entre o grupo – uma forma de estabelecer poder, socialmente. As mulheres também trazem alimentos (a maior parte da ração diária, por sinal) – mas não os distribuem. Assim, os homens são um pouco mais poderosos.

              A verdade é que, entre quatro paredes, ninguém sabe quem manda. As mulheres hoje têm uma grande influência informal.

              Segundo a antropóloga Susan Rogers, nenhum dos sexos pensa, atualmente, que os homens mandam. Para ela, a dominação masculina é um mito.

              Martin Whyte estudou 93 sociedades, desde babilônicos antigos até culturas atuais – 1/3 caçadores-coletores, 1/3 camponeses e 1/3 pastores/jardineiros. Buscou respostas sobre as relações de gênero incluindo várias perguntas sutis, como: os deuses são de qual sexo?

              Concluiu que não havia uma sociedade onde as mulheres dominassem todas as esferas da vida social. Coisas como as mulheres Amazonas eram mitos.

              Especialmente entre agricultores, os homens controlavam as mulheres na maioria das atividades. Em cerca de 30% das sociedades (especialmente CC e jardineiros), parecia haver uma igualdade.

              E em cerca de metade das culturas as mulheres tinham um poder informal maior do que o que a própria sociedade dizia que elas tinham.

              E o poder não era dado, em nenhuma sociedade, de forma igual. Em uma os homens podiam mandar mais em um aspecto; em outra, em outros.

              Além disto, para o poder contavam outros fatores, como a classe social, a idade e até o sex appeal.

              Voltando a nossos ancestrais… Eles não tinham muitas propriedades, nem mesmo uma residência permanente. Homens caçavam, mulheres coletavam…  Quem mandava?

              Os chimpanzés podem ajudar a esclarecer.

    – Políticas de chimpanzés

              Um grupo de chimps vive em um zoo na Holanda desde 1971. Para eles, aparentemente, a luta por escalar o poder é o tempero da vida. (Logo após chegarem no zoológico, eles organizaram uma fuga, mas foram recapturados.)

               Um macho arruma seu cabelo, gesticula com as mãos e pés, segura uma pedra. Geralmente é suficiente para intimidar o rival. Este se curva para parecer menor.

              Várias outras políticas de formação de coalizões e amizades fora descritas. Algumas alianças duram anos.

    – Networking

              A cada momento há um chimpanzé claramente dominante. Porém outro pode, pouco a pouco, ascender à liderança, geralmente após um confronto direto, supervisionado por um “xerife”.

              Já as fêmeas formam uniões mais igualitárias, que se ajudam com os filhos etc. A dominante adquire o posto por idade ou “carisma”.

              Embora percebamos mais os conflitos, também há uma série de rituais diários para manter a paz, mesmo entre inimigos – que se dão as mãos, se abraçam etc. A violência é exceção.

    Homens e mulheres agem assim? Sim. A busca por rankings, em homens, é ligada à testosterona. O comportamento delas é dirigido pelo estrogênio.

              O primatologista Frans de Wall percebeu que o poder entre chimps não vem necessariamente de força, mas de uma rede bem estabelecida de aliados.

              Além disto, há o poder informal – das fêmeas. Big Mama, no fim das contas, manda sobre muita coisa.

              A dominação do macho, se isto implica ter poder sobre todas as esferas da vida, é um mito.

    – A rede das garotas velhas

              Em babuínos, grupos de fêmeas aparentadas vivem juntas, enquanto os machos frequentemente mudam de grupo em grupo. Mas dentro da tropa, há grupos de fêmeas superiores a outros. Uma dinastia, uma rede de “velhas amigas”.

              Uma “criança” assume o status da família, entre chimpanzés. A filhade uma poderosa será poderosa; a filha de uma fraca, idem.

    – Relações de gênero no Antigo Olduvai

              Entre primatas a lei da selva passa a ser também a lei dos cérebros. Os cérebros dos Homo habilis logo dominariam o fogo e inventariam novas ferramentas. Então, como um foguete, nossos ancestrais logo chegariam a uma vida social quase humana.