Pular para o conteúdo

NARCISISMO – NÃO É CULPA SUA

    IT’S NOT YOU

    Ramani Durvasula

    Autora

    Pesquisadora e clínica

    Prefácio – breve historinha pessoal (NDN)

    INTRODUÇÃO – COMO CHEGAMOS AQUI?

    Histórias de três clientes.

    Focar apenas na ansiedade etc. (sintomas) não resolve o problema. É preciso entender o contexto que cria os sintomas. Validação e educação sobre os padrões dentro do relacionamento são necessários.

    Há um provérbio que diz: “Até que a história da caça seja contada pelo leão, a história da caça sempre irá glorificar o caçador.”

    Os livros, até aqui, falaram sobre os narcisistas.

    Mesmo sem querer, os glorificamos – eles são nossos líderes políticos, os seguimos nas redes sociais.

    Mais do que isto: estão à nossa volta – pais, companheiros, etc.

    Pouco se fala sobre as vítimas, entretanto.

    Muitas vezes tentamos entender o “Por quê (eles são assim)?”, como se isto fosse resolver algo – não irá.

    Tem um programa com milhares de “sobreviventes”. E um canal no YouTube.

    Vale a pena falar sobre o narcisista, se o problema é o dano que ele causa? Se ele provavelmente não vai mudar?

    Importa se o comportamento é intencional ou não?

    Com seus clientes, prefere usar o termo “estresse relacional antagonístico” e chamar o comportamento do parceiro de “antagônico” do que rotular de narcisista.

    O comportamento antagônico se caracteriza apor manipulação, exploração, arrogância etc. – e está presente em outras situações, como a psicopatia. Assim, é um conceito mais útil, na prática.

    “Eu me senti culpada e desleal ao ver familiares e pessoas que eu amava como narcisistas.”

    Às vezes enfrentaremos críticas pesadas por violar antigas cobranças culturais por “leadade” etc.

    Mas quem resolver conviver com pessoas de garras afiadas terminará sangrando até a morte.

    Amigos, parentes e até mesmo terapeutas culpam a vítima, por não ser mais forte, mais compreensiva, por não largar o relacionamento etc.

    Por outro lado, inúmeros artigos sobre a terapia com narcisistas.

    “A única coisa que você precisa entender sobre o narcisismo é que na maioria dos casos este padrão de personalidade já estava lá antes de você chegar na vida do narcisista e estará lá depois que você se for.”

    E você poderá sair maior do processo, com mais auto-conhecimento.

    A terapia convencional irá tentar te fazer enxergar seu papel nos conflitos etc. Mas quando se trata de um narcisista, isto não irá servir para nada.

    O que precisamos é entender o que é um comportamento tóxico e inaceitável – e não aceitá-lo.

    Há uma simples e profunda verdade: não é você!

    Muitas pessoas, após entender isto, dizem que finalmente se sentem normais. Obtém permissão para desengajar.

    E até mesmo para se relacionar com um narcisista – de uma maneira diferente.

    É como acender as luzes da casa e apagar o “gaslight”.

    Quando se sai de um relacionamento com um narcisista, pensamos que é o fim da história. Mas, frequentemente, é onde o processo de cura apenas se inicia.

    PARTE 1 – O RELACIONAMENTO NARCISISTA

    1 – CLARIFICANDO O NARCISISMO

    “Narcisismo” é uma palavra da moda – e ainda é mal-compreendida.

    Na verdade, nem sempre é fácil “desmascarar” um narcisista. Porque eles não têm um “comportamento de livro”, é bem mais complexo.

    Talvez você já tenha se relacionado com um e nem tenha percebido.

    – O que é narcisismo?

    A função dos traços narcisistas é proteger o self da pessoa.

    O narcisismo é sobre uma insegurança profunda.

    Manobras como a manipulação visam manter o controle.

    Os traços não importam – o que importa é o comportamento.

    Muitos narcisistas são “moderados” e o equilíbrio de dias ruins e bons é o que te mantém no relacionamento.

    * Necessidade de suprimento

    Eles precisam de validação e admiração. É o chamado “suprimento do narcisista”. Se não o obtém, se tornam raivosos.

    * Egocentrismo

    Há orgulho – e desvalorização do outro. Não basta escolher o restaurante – tem de dizer que fez isto porque você não sabe escolher.

    As necessidades dele sempre virão primeiro, em um relacionamento.

    * Inconsistência consistente

    Quando tudo vai bem na vida deles, podem ser menos antagônicos. Mas como eles sempre precisam de mais…

    * Inquietação

    Busca por novidade e excitação.

    Isto leva à troca de parceiros ou infidelidade, por exemplo.

    Ou gastos excessivos.

    Parecem perpetuamente entediados.

    * Grandiosidade ilusória

    Crenças fantásticas sobre histórias de amor ideal e outras povoam o imaginário do narcisista.

    Eles pensam que são melhores do que os outros.

    Eles mantém as crenças delirantes mesmo que elas causem dor a outros.

    * Máscaras mutantes

    De alegres e sedutores a vítimas (raivosas) do mundo.

    Estar com eles “é um passeio selvagem e desconfortável”.

    * Direito

    O direito (entitlement) é um padrão core do narcisismo. Teorias sugerem que é o traço que define todos os outros.

    Se as regras são aplicadas a eles, se tornam raivosos. Se eles têm de seguir regras, é porque não são tão especiais.

    Eles se sentem “entitled” fazendo o que querem e quando querem.

    * Supercompensação da insegurança

    A pedra fundamental do narcisismo é a insegurança.

    Narcisismo não é sobre elevada ou baixa autoestima, mas sobre insegurança.

    A grandiosidade é uma defesa.

    * Sendo “pele fina”

    À menor crítica reagirão de forma raivosa e desproporcional.

    Oferecer segurança demais também por irritá-los, pois demonstra que são fracos e precisam disto. “Não me trate como criança!”

    Um “não” porque o outro está ocupado é visto como um “ataque”.

    Em suma, você não tem como “vencer” (satisfazer) um narcisista.

    * Incapacidade de autorregulação

    Eles não podem expressar suas fraquezas.

    E não conseguem se regular.

    As críticas etc. geram a raiva e vingança, que fazem se sentir melhor.

    * Necessidade de domínio

    Intimidade e proximidade não o atraem.

    Não estão interessados em um “toma lá, dá cá” necessário em um relacionamento saudável.

    * Falta de empatia

    Não é acurado dizer que eles não tenham empatia.

    É variável.

    Podem possuir empatia cognitiva. Podem entender por que uma pessoa se sente bem ou mal – e usar isto a seu favor.

    Também podem fingir, para obter ganhos.

    * Desprezo (contempt)

    Eles precisam de pessoas. E odeiam precisar, pois isto significa que o outro tem algum poder. Isto leva ao desprezo pelas necessidades e sentimentos do outro.

    Geralmente o esprezo é destilado de forma passiva-agressiva.

    * Projeção do que o envergonha

    Um mentiroso acusa o outro de ser mentiroso.

    * Incrivelmente charmosos

    Mesmo que pareçam arrogantes, acreditamos que são assim por direito.

    A cultura do sucesso nos faz perdoar certos traços.

    – O continuum do narcisismo

    Tendemos a pensar no narcisismo como algo binário: é ou não.

    No espectro benigno estão os eternos adolescentes do Instagram buscando atenção, mas muitas vezes inofensivos.

    A maioria dos casos não é extrema – e é sobre estes “moderados” que fala o livro.

    Por não ser extrema, confunde – e te mantém investido no relacionamento.

    Eles podem até ter algum insight sobre o seu comportamento não ser ok, mas não conseguem ter empatia ou autocontrole suficiente. Então tentam fazer certas coisas escondidas. Ou dentro do lar, apenas. Charmosos fora de casa, um demônio dentro.

    – Os diferentes tipos de narcisismo

    Há muitos tipos, embora os traços principais se mantenham. E os próprios tipos podem se mesclar.

    * Grandioso

    É o “clássico”.

    * Vulnerável

    Às vezes chamado de “coberto”, “secreto” (covert), pois podem parecer tristes, ressentidos. (O termo “coberto” é utilizado, por alguns, para descrever os falsos bons samaritanos.)

    Costumam ser invejosos e críticos do sucesso ou alegria alheios.

    * Comunitário

    * Hipócritas (self-righteous)

    Moralistas, maniqueístas, rígidos.

    * Negligentes

    Ausentes, “autistas”.

    * Malignos

    A tétrade negra: narcisismo, psicopatia, sadismo e maquiavelismo.

    Só se diferem do psicopata por terem insegurança.

    O maligno vai explodir em raiva, o psicopata pode se manter calmo.

    Beiram a paranoia.

    – A batalha entre narcisismo e TPN

    O termo tem sido over-utilizado.

    Alguns dizem que é “rotulatório”.

    Uma pessoa pode agir como um idiota em um dia ruim – e isto não significa que é narcisista.

    Alguns terapeutas até, sem querer, invalidam as vítimas ao tratarem os narcisistas como doentes – embora os narcisistas possam ser bastante espertos, como ao escolher quando e onde ser bom ou mau.

    O narcisismo é um estilo de personalidade, não um transtorno. O TPN é outra coisa. Não podemos diagnosticar com base na fala do paciente vítima.

    O TPN é uma doença paradoxal, que pode machucar mais as pessoas que convivem do que o doente.

    Algumas vítimas se culpam porque o parceiro não foi diagnosticado.

    – Mitos sobre o narcisismo

    * São sempre homens

    O grandioso é mais encontrado em homens.

    O mito do macho alfa perpetua o mito.

    * É apenas arrogância

    Eles também precisam diminuir o outro – eles irão rir no seu fracasso.

    * Não podem controlar seu comportamento

    Na frente de chefes, superiores, pessoas de alto status etc. eles se controlam.