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LIVRO “MANEIRAS DE AMAR” – RESUMO

    “Maneiras de amar”, de Amir Levine, psiquiatra, e Rachel Heller, formada em Ciências do Comportamento, é um livro que tenta transformar a Teoria do Apego Adulto em um guia prático para relacionamentos – não apenas para pessoas já envolvidas com alguém, mas também para solteiros.

    Maneiras de amar
    Maneiras de amar

    O pai da Teoria do Apego é John Bowlby, que há várias décadas, estudando crianças – e como estas lidavam com suas mães, concluiu que todos nós temos uma necessidade de vínculos fortes com outras pessoas. Estes vínculos são necessários ainda na infância, mas permanecerão essenciais durante toda a nossa vida.

    John Bowlby afirmou que, quando o ser humano surgiu, há centenas de milhares de anos, aqueles que não se apegavam a outros e viviam por si sós na floresta acabavam por morrer mais cedo, vítimas de predadores. Os que formavam vínculos sociais tinham uma maior chance de sobreviver – e passaram os “genes do apego” adiante. Assim, a raça humana foi sendo composta por pessoas que têm uma necessidade natural de se ligarem a outros seres humanos.

    John Bowlby
    John Bowlby

    As primeiras pesquisas mostraram que as crianças manifestam o seu apego de três maneiras principais. As inseguras choram, dão birra quando a mãe (ou o seu cuidador principal) se afasta. As seguras ficam mais tranquilas e, quando a mãe retorna, ficam felizes. As chamadas evitativas parecem não se importar com a ausência da mãe, mas medições dos seus batimentos cardíacos mostram que estão, sim, ansiosas.

    ESTILOS DE APEGO

    Portanto, há três tipos de apego:

    • inseguro
    • seguro
    • evitativo

    Outros pesquisadores, como Cindy Hazan e Phillip Shaver, começaram a estudar o apego em adultos dentro de um relacionamento. Eles publicaram um teste em um jornal, com apenas três descrições, e os leitores responderam, dizendo com qual mais se encaixavam. O teste era bem simples, as descrições compostas de frases como “Costumo me preocupar, pensando se a pessoa realmente me ama, se quer mesmo ficar comigo. (…)” ou “Acho relativamente fácil me aproximar dos outros e sinto-me confortável em depender deles e deixar que dependam de mim. (…)” ou “Sinto-me pouco à vontade ao me aproximar dos outros. Acho difícil confiar plenamente e também me permitir ser dependente deles. (…).” À esta altura você já deve ser capaz de dizer que as frases correspondem, respectivamente, aos estilos de apego inseguro, seguro e evitativo.

    Cerca de metade das pessoas que responderam ao teste se identificaram com o estilo de apego seguro. Cerca de 25% se encaixaram no apego inseguro e os restantes 25% no apego evitativo.

    Teoria do Apego
    estilos de apego

    O estilo de apego de cada pessoa se reflete em todos os aspectos do relacionamento: em como lidam com conflitos, na capacidade de comunicarem seus desejo e até nas atitudes em relação ao sexo.

    De onde vem cada estilo? Antigamente pensava-se que fosse apenas fruto da criação. Por exemplo: pais distantes geravam pessoas com estilo evitativo. Hoje aceita-se que outros fatores, como a história de vida adulta da pessoa, influenciem.

    Aliás, pesquisas mostraram, quando entrevistadas quatro anos depois, cerca de 25% das pessoas mostravam um estilo de apego diferente do observado na primeira avaliação!

    A complexa biologia em nosso cérebro responsável por tudo isto é chamada de “sistema de apego”. Na ausência ou perda da pessoa que dependemos, ele nos induz ao “comportamento de protesto”. Na prática: comportamentos como “fazer drama”, crises de ciúme, ameaças, telefonar “mil vezes” etc. Tudo isto pode ser bastante inadequado socialmente, porém, de acordo com a Teoria do Apego, são comportamentos “normais” – isto é, comuns e compreensíveis. Você é apenas um bebê fazendo birra quando a mãe vai trabalhar…

    Entretanto, vivemos em uma cultura que glorifica a individualidade, a capacidade de sermos independentes etc. Uma cultura que nos diz: “Se você encontrou o seu par ideal, ótimo! Se não, aprenda a se amar, a viver sozinho, a não depender de ninguém!” Isto é, ou esteja dentro de um amor seguro ou seja evitativo – o comportamento inseguro é para os fracos, para os que não se amam etc.

    A Teoria do Apego diz justamente o contrário – que ser inseguro é perfeitamente normal. A estatística ampara esta conclusão: se em cada quatro pessoas uma apresenta este estilo de apego, não podemos chamar isto de anormal, de doentio… Pelo contrário, estas pessoas estão agindo sob a influência de um instinto básico, de sobrevivência. Lá nas florestas africanas, onde a humanidade surgiu, aqueles que não se importavam em perder seus parceiros logo eram comidos por leões… Formar parcerias poderia significar a diferença entre a vida e a morte!

    Como o título do capítulo 2 de “Maneiras de amar” afirma: “Dependência não é palavrão”. Todos nós dependemos emocionalmente de outras pessoas. Pode ser que não dependamos de um parceiro romântico em determinada época de nossas vidas, mas certamente dependemos afetivamente de amigos, parentes etc.

    A dependência emocional, segundo John Bowlby, faz parte da essência do que significa ser humano.

    Entretanto, isto não quer dizer que as pessoas com um estilo de apego ansioso – ou mesmo evitativo e até mesmo os seguros – não sofram, quando seus estilos não se encaixam bem! Portanto, aprender mais sobre os estilos de apego e como navegar pelo mar dos relacionamentos com o nosso barco – seja ele ansioso, seguro ou evitativo – não é uma má ideia. Não é porque uma pessoa nasceu com ou desenvolveu um estilo de apego específico que ela esteja condenada a sofrer até o final de sua vida…

    AS TRÊS “MANEIRAS DE AMAR”

    O que os autores do livro “Maneira de amar” pretendem, então, é trazer tudo o que já foi estudado sobre a Teoria do Apego para a prática dos relacionamentos.

    Segundo eles, a Teoria do Apego é capaz de explicar de forma muito simples a dinâmica de um relacionamento.

    Primeiramente, é necessário dizer não existe um estilo de apego “correto”, “ideal”. Todos nós – lembremos John Bowlby precisamos de alguém. Entretanto, cada um manifesta esta necessidade de uma maneira diferente. Até mesmo os evitativos querem um relacionamento – só não querem tanta proximidade quanto um ansioso necessita!

    Contudo, apesar de não haver um estilo de apego correto, as pessoas com um apego seguro parecem ser mais felizes, em seus relacionamentos, do que as com um estilo de apego evitativo ou ansioso. Estas últimas geralmente são as que sofrem mais.

    Entretanto, na prática não importa tanto o estilo de apego de um ou de outro, mas a combinação. 

     Exemplos:

    – uma pessoa ansiosa sofrerá muito com uma evitativa, mas uma pessoa segura pode acalmar uma ansiosa e duas pessoas ansiosas podem dar certo…

    – uma pessoa evitativa pode ter uma relação tranquila com uma segura, mas é pouco provável que dois evitativos fiquem juntos por muito tempo, já que os dois querem “fugir” de relacionamentos muito intensos (ou até podem ficar juntos e a relação fluir, embora quem veja de fora pense que formem um casal “estranho”, “parecem mais amigos do que namorados”…)

    – uma pessoa segura costuma ter relações boas com uma pessoa com qualquer tipo de apego, mas tende a durar mais com outra segura, podendo se cansar das necessidades da ansiosa…

    Ou seja, o que Amir Levine e Rachel Heller propõem, em “Maneiras de amar”, é que primeiramente entendamos o nosso próprio estilo de apego. Em seguida, que entendamos qual seria o estilo de apego ideal de nosso parceiro, o tipo de apego que se encaixaria melhor do que o nosso.

    Os autores não propõem, curiosamente, que as pessoas ansiosas ou evitativas busquem terapia – já que, apontam, todo estilo de apego é normal. O que propõem, especialmente para as pessoas com estilo de apego inseguro, é uma “caça” a um parceiro com estilo de apego seguro.

    Os seguros, apontam, à primeira vista podem parecer sem-graça, incapazes de gerar fortes emoções. Pessoas com estilo de apego ansioso, quando se envolvem com pessoas evitativas, costumam sofrer muito – e confundir isto com “vivier fortes emoções”. As ansiosas tentam conquistar, envolver as evitativas – o que faz com que estas se afastem mais. A relação é tumultuada, intensa. Quando uma pessoa segura aparece na vida de uma pessoa ansiosa, portanto, a ansiosa não valoriza a calmaria. A sugestão de Amir Levine e de Rachel Heller, portanto, é que, se você tem um estilo de apego ansioso, pare de olhar para as pessoas evitativas e dê uma chance às seguras…

    “Maneiras de amar” tem cerca de 250 páginas. Nas primeiras 150 páginas, os autores se dedicam a descrever, muito detalhadamente, cada tipo de apego. Há testes para você descobrir o seu estilo de apego e testes para descobrir o estilo de apego de seu parceiro – ou pretendente.

    Na parte seguinte do livro, os autores se dedicam a avaliar especialmente uma combinação, ansioso-evitativo, que de fato parece ser a mais problemática. E, enfim, se dedicam a falar sobre as vantagens do relacionamento com seguros – e, afinal, dão alguns conselhos para que cada leitor que não tenha um estilo seguro ao menos possa agir de uma forma mais calma em seus relacionamentos.

    *

    Interessante apontarmos, por fim, que o livro “Maneiras de amar” foi lançado, originalmente, no Brasil, com o título “Apegados”. De fato, o título original, em inglês, é “Attached”, cuja tradução correta seria mesmo a empregada na primeira versão do livro. O título talvez tenha sido alterado por razões comerciais, na esperança de que “Maneiras de amar” vendesse mais.