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HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA DOS SENTIMENTOS E DAS EMOÇÕES

    UMA BREVÍSSIMA HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA NEUROPSICOLOGIA DOS SENTIMENTOS E DAS EMOÇÕES

    Veja antes: HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA – sobre como desde Hipócrates até os dias atuais foi se desenvolvendo a compreensão das relações entre a mente e o cérebro.

    PLATÃO E ARISTÓFANES

    (c. 428 – c. 348 AC)
    Platão e outros filósofos de sua época, como Sócrates, ponderaram, entre vários assuntos referentes à natureza humana, também sobre os sentimentos, incluindo o amor.
    Embora as contribuições destes filósofos para a Neuropsicologia tenha sido marginal, Platão e colegas acabariam influenciando muito os ideais românticos atuais.

    Em “O banquete”, Platão e outros discutem a natureza do amor.
    Propõe-se que o amor se inicia pela atração física, porém seu objetivo é alcançar a virtude – isto é, a apreciação intelectual, a apreciação espiritual.

    Esta espécie de amor, por ser quase inalcançável, idealizada, daria origem à expressão “amor platônico”: um sentimento que não pode ser consumado.

    Durante o jantar, Aristófanes narra um mito. Os primeiros seres humanos tinham duas faces, quatro braços, quatro pernas. Haviam três tipos: o masculino, feito pela união de dois homens; o feminino e o andrógeno (um homem e uma mulher).
    Estes seres se achavam poderosos e desafiaram os deuses. Zeus, o deus supremo, irritado, cortou estes seres no meio.
    Após isto, cada um passou a ansiar pela sua “cara-metade”.
    Esta noção de “alma gêmea” ressoa até hoje dentro de cada um de nós.

    CHARLES DARWIN

    O inglês Charles Darwin (1809 – 1882) é o pai da Teoria da Evolução e, sem dúvida alguma, um dos homens do passado mais influentes no tempo atual.
    Embora sua teoria explicasse originalmente a origem das espécies, foi amplamente expandida por cientistas sociais, posteriormente. Por exemplo, um dos ramos mais influentes da Psicologia atualmente, a Psicologia Evolutiva, explica os nossos sentimentos e comportamentos mais básicos (como o amor, o ciúme etc.) com base na Teoria da Evolução.
    O próprio Darwin, após o lançamento de sua mais famosa teoria, se dedicou a estudar as emoções e lançou, em 1872, “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”.
    Darwin tinha correspondentes no mundo todo e, observando a universalidade de expressões como a alegria ou a tristeza, concluiu que elas deveriam ter uma base biológica.

    PHINEAS GAGE

    O paciente mais famoso da história da Neuropsicologia, o caso do americano Phineas Gage (1823 – 1860) é um marco neste campo da ciência.
    Em 1848, Gage, que trabalhava em uma ferrovia, foi vítima de um acidente horrível: uma barra de 1,5 metro atravessou o seu cérebro, como uma bala, após uma explosão. Entretanto, ele nem mesmo desmaiou, embora tenha perdido um olho.
    Gage era um homem calmo, até então. Porém logo os colegas notaram que sua personalidade mudou bastante, se tornando impulsivo, irritável.
    O caso Phineas Gage, após descrito pelo seu médico John Martyn Harlow, tornou-se a primeira grande demonstração moderna da correlação entre áreas cerebrais – especialmente o lobo frontal, que para muitos era “inútil”, uma “área silenciosa” – e o comportamento.

    WILLIAM JAMES

    O filósofo e psicólogo americano William James (1842 – 1910) refletiu profundamente sobre o comportamento humano, em especial as emoções.
    James concluiu que as emoções se originavam de sensações corporais, que o cérebro traduzia como sentimentos.
    A ideia seria refutada, posteriormente.

    SIGMUND FREUD

    O austríaco Sigmund Freud (1856 – 1939) foi um dos nomes mais influentes na cultura do século 20.
    O criador da Psicanálise começou sua carreira como médico neurologista, porém logo se interessaria mais pela Psicologia.
    Desenvolvedor de teorias como a de que o inconsciente é a grande parte do iceberg que, sem que percebamos, molda nossas ações conscientes, Freud esperava que o futuro desenvolvimento da Ciência demonstrasse uma base biológica para suas propostas.
    De fato, a ciência demonstrou diversos correlatos entre nosso comportamentos e o cérebro, porém as principais teorias de Freud são consideradas pseudociência – pois não têm como ser provadas. Entretanto, é inegável a prevalência de suas ideias ainda hoje, na Psicologia.

    PAUL MACLEAN

    O americano Paul MacLean (1913 – 2007), na década de 1960, propôs a teria do cérebro trino – isto é, que o órgão era composto de três partes evolutivas: o reptiliano, composto pelos gânglios da base e responsável por nossos instintos mais básicos; o emocional, composto pelo sistema límbico; e o neocórtex, responsável pela razão.
    O modelo, embora impreciso do ponto de vista evolutivo e neuroanatômico, ainda prevalece como uma simplificação didática.

    ANTÓNIO DAMASIO

    O português António Damasio (1944 – ), neurocientista e escritor popular, é um dos mais importantes nomes dos tempos atuais a defender a importância das emoções.
    Sua obra “O erro de Descartes”, de 1994, foi sucesso mundial. A ideia básica do livro é: “Toda e qualquer expressão da razão está baseada em emoções.” Isto é, nossas decisões, supostamente puramente racionais, são influenciadas por nossos sentimentos em relação às opções.
    Suas ideias nasceram da observações de pacientes com lesões que afetavam as emoções – e, consequentemente, o julgamento racional de uma situação.

    DANIEL GOLEMAN

    O psicólogo americano Daniel Goleman (1946 – ) ficou famoso após o lançamento de seu livro “Inteligência Emocional”, em 1995. Na obra, Goleman popularizou uma ideia que desenvolveu através da interpretação de vários experimentos realizados por colegas: a “IE” (inteligência emocional) é tão ou mais importante do que o QI (quociente de inteligência), para prever o sucesso de uma pessoa.

    RICHARD DAVIDSON

    O americano Richard Davidson (1951 – ) ficou conhecido por seus trabalhos com monges budistas, inclusive o Dalai Lama.
    O trabalho do psicólogo foi focado em demonstrar que certos padrões cerebrais podem ser observados em diferentes estados emocionais e que práticas meditativas podem levar a transformações duradouras em áreas cerebrais relacionadas às emoções.
    Davidson escreveu vários livros de sucesso, inclusive com Daniel Goleman.
    Em “A vida emocional do seu cérebro”, Davidson desenvolve a ideia de “perfis emocionais” – uma espécie de teste de personalidade, com seis opções, que teriam correlatas cerebrais.

    JAAK PANKSEEP

    O estoniano Jaak Pankseep (1943 – 2017) cunhou a expressão “neurociência emocional” (ou “afetiva”) para designar seu campo de estudos.
    Trabalhando com animais, especialmente roedores, Pankseep identificou sete sistemas emocionais primários: busca (expectativa), medo (ansiedade), raiva (fúria), atração (excitação), cuidado (criação), luto (tristeza) e brincar (socialização).
    Pankseep acreditava que animais e humanos possuíam circuitos semelhantes e que estas emoções se originam do nosso self central.
    Para o pesquisador, quando nossas emoções estão envolvidas no processo de aprendizado, isto nos ajuda a dar sentido às informações, ajudando-nos a priorizar e internalizar a experiência de acordo com o que é mais importante para nossa vida.


    A DESCOBERTA DO SISTEMA LÍMBICO

    THOMAS WILLIS

    O inglês Thomas Willi, já citado como um dos pais da Neurologia, chamou de “límbica” uma região cortical que circundava o tronco cerebral.
    O nome veio do latim, significando “limbo” ou “borda” e progressivamente abrangeria áreas maiores.

    PAUL BROCA

    O francês Paul Broca, também já citado, como descobridor da região responsável pela fala, em 1878 descreveu uma área cerebral a qual chamou de “grande lobo límbico”. A área estava relacionada ao olfato, em vários mamíferos, porém Broca acreditava que a região não exercia apenas esta função.
    De fato, nos anos seguintes vários pesquisadores identificaram seu papel na consolidação de memórias, interação social e emoções.

    JAMES PAPEZ

    Em 1937, o americano James Papez (1883 – 1958) propôs uma teoria integrativa entre percepções, sensações, emoções e o cérebro – a região envolvida seria chamada de “circuito de Papez”.
    As percepções entram no circuito através do hipocampo; as sensações (corporais) através do hipotálamo. O circuito emocional dá “cor” (significado afetivo) a estas percepções e sensações.

    PAUL MACLEAN

    O americano Paul MacLean (1913 – 2007), já citado como autor da teoria do cérebro trino, em publicação de 1952 integrou as ideias anteriores sobre as áreas relacionadas às emoções, cunhou o termo “sistema límbico” e sua descrição permanece basicamente inalterada desde então.
    Para MacLean, o sistema respondia não apenas por nossas emoções, mas também tinha um papel em nossos comportamentos mais básicos, associados à nossa sobrevivência, como luta, fuga, reprodução e sobrevivência.

    EXAMES DE IMAGEM E OUTROS

    O desenvolvimento de exames como a tomografia por emissão de pósitrons (PET)
    e a imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) permitiram que se visse quais regiões do cérebro estavam mais ativas enquanto os pacientes ou voluntários eram expostos a situações como estresse, raiva, medo etc.
    Isto permitiu um detalhamento muito grande de quais áreas do cérebro são ativadas enquanto vivenciamos cada emoção, inclusive as mais complexas, como o amor ou o ciúme.

    Outras técnicas têm sido desenvolvidas para o estudo do funcionamento cerebral, como a estimulação magnética transcraniana (TMS), um potente “imã” que permite ativar ou inibir uma região qualquer e observar as consequências.
    A TMS têm sido testada, com alguns resultados favoráveis, no tratamento de alguns transtornos mentais.


    O SISTEMA LÍMBICO

    O sistema límbico está localizado profundamente no cérebro, sob o córtex cerebral, e inclui várias estruturas interconectadas, como:

    • hipocampo: crucial para a formação de novas memórias.
    • amígdala: processamento e resposta a emoções, especialmente o medo.
    • tálamo: retransmissão de sinais sensoriais.
    • hipotálamo: regulação de funções autônomas e endócrinas, incluindo respostas hormonais.
    • córtex pré-frontal: certas partes são importante para a regulação das emoções e tomada de decisões.