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AS CAUSAS DE DIVÓRCIO

    CAP. 5 – O DIAGRAMA DO DIVÓRCIO (A COCEIRA DOS TRÊS A QUATRO ANOS)

              Embora suas músicas e histórias expressem paixão entre homens e mulheres, os beduínos acreditam que o amor romântico é vergonhoso. Espera-se, nesta sociedade, que os casamentos sigam as ordens da família. Ama-se pais, irmãos, filhos – não necessariamente o companheiro. Embora exista a possibilidade do amor, o que se espera de pessoas honradas é o comedimento. Assim, ficam horrorizados com demonstrações públicas de amor.

              Apesar de hoje muitos andarem de camionetes e não em camelos, eles construíram  uma longa tradição. Um amor pela independência, honra, coragem e hospitalidade – e, acima de tudo, um gosto por música, vinho e… mulheres.

              Ao contrário dos líderes cristãos, para Maomé o sexo era uma das grandes alegrias da vida – e o casamento guarda o homem e a mulher da promiscuidade. Portanto, era incentivado.

              Embora, seguindo a tradição, ele visse as mulheres como inferiores aos homens, ele introduziu uma série de códigos legais e morais “protegendo” as mulheres. Um homem não deveria ter mais de quatro esposas – e a cada noite deveria circular entre elas. Não deveria haver favoritismo.

               No catolicismo, o casamento é um sacramento e não deve ser quebrado. No islamismo, pode.

              Uma tradição antiga, que ainda sobrevive em partes do mundo árabe, diz que basta o homem dizer três vezes a frase: “Eu me divorcio de você.” (e ficar três meses sem sexo com a mulher, caso contrário o divórcio é desfeito).

    – Partindo

              Há alguma forma de partir que não seja complicada?

              Em quase toda parte do mundo o divórcio foi ou é permitido, embora às vezes com muitas dificuldades. Os incas, entretanto, não o permitiam. A Igreja Católica não permite um segundo casamento.

    – Por que as pessoas se separam?

              As pessoas alegam os mais variados motivos para a separação. Entretanto, o adultério encabeça a lista – isto em 160 sociedades, notou a antropóloga Laura Betzig – especialmente quando foi a mulher a infiel. Esterilidade vem como 2º motivo. Crueldade, particularmente do marido, vem no 3º posto. Só então entram como razões a personalidade do outro: ciúme, desrespeito, preguiça, falta de sexo etc.

              Darwin disse que nos casamos para procriar. Assim, não surpreende as duas principais causas. Além disto, a maioria das pessoas separadas em idade fértil formam um novo par de longo prazo – mesmo que o casamento anterior tenha sido péssimo. Como disse Samuel Johnson, é o triunfo da esperança sobre a experiência.

    – O dinheiro fala

              As taxas de divórcio são maiores em sociedades onde homens e mulheres têm posses e direitos de repassar estas posses à sua família original. Isto é, onde um não depende economicamente do outro, casamentos ruins acabam.

              Entre os !Kung as mulheres são poderosas socialmente (as velhas podem se tornar xamãs e líderes) e economicamente. Entre eles, é comum portanto que homens e mulheres se casem mais de uma vez na vida.

              A cada três dias um grupo de mulheres sai para coletar no bosque. Os homens, para caçar. Como coletar é mais fácil, as mulheres contribuem, em média, com metade ou mais do jantar.  

              Quando um homem ou uma mulher estão insatisfeitos com a relação, ele(a) simplesmente parte para outro grupo de !Kungs (eles vivem em grupos de 10 a 30, na época das chuvas; depois fazem grupos maiores). Mas antes, comumente, há discussão, acusações, a comunidade se envolve.

              Um estudo de 1970, feito pela socióloga Nancy Howell, encontrou que, de 331 casamentos (entre os !Kungs?), 134 terminaram em separação. Uma mulher teve cinco casamentos. Riqueza é poder.

              *

              Entre os Yoruba (África) as mulheres controlam o complexo sistema de comércio dos vegetais que elas mesmas cultivam. Cerca de 46% dos casamentos terminam em divórcio, entre eles.

              Os Hazda (Tanzânia): as mulheres coletam, os homens caçam. Em 1960 sua taxa de divórcio era cinco vezes maior do que nos Estados Unidos.

              A autora, em 1968, passou um tempo com os Navajo. São matrilineares. As mulheres podem possuir terra. E são as médicas. Uma em cada três acaba se separando.

              Os Micmac (Canadá) dizem: “Ninguém deve se casar apenas para ser infeliz o resto dos seus dias.”

              A mais notável correlação entre dependência econômica e baixas taxas de divórcio foi vista na Europa pré-industrial – e em sociedades que ainda usam o arado, como partes da Índia e da China.

    Não tem (tanto) a ver com o fato de Jesus proibir o divórcio e o casamento, no século 11, ter se tornado um sacramento.

    Casais de agricultores simplesmente dependem um do outro, trabalhando juntos (cada um com suas funções) na terra. E quem sai… como levar metade do trigo? O casal estava preso ao solo.

    – Mulheres trabalhando

              A Revolução Industrial mudou esta realidade – e as taxas de divórcio cresceram. Homens e mulheres agora levavam dinheiro para casa.

    No começo do século 20 cada vez mais se viam mulheres em fábricas, nos Estados Unidos. E a taxa de divórcio aumentando, ainda que lentamente. Atualmente 50% dos casamentos no país acabam.

    Isto não é novidade. Entre os romanos, no século 1 a. C., uma série de novas leis permitiu às mulheres de classe alta controlar a sua fortuna. E o divórcio virou uma epidemia.

    – Laços que unem

              Não surpreendentemente, os casais que não se separam mostram algumas características como personalidades parecidas, interesses em comum etc.

              Pessoas inflexíveis têm relações conturbadas.

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              Margaret Mead, antropologista: “Não há sociedade onde as pessoas permanecem casadas sem que exista uma enorme pressão da comunidade para isto.”

    – A coceira do divórcio

              Pesquisando o Anuário Demográfico das Nações Unidas, desde 1947, a autora encontrou alguns padrões para o divórcio, estudando dezenas de países. São três insights, todos que apontam para a nossa natureza biológica.

              1) O divórcio geralmente ocorre cedo, no casamento – o pico é entre três ou quatro anos. Isto não se alterou nas últimas décadas, apesar de mudanças sociais brutais. Até mesmo Shakespeare deixou sua esposa nesta janela de tempo.

              Há variações, claro. Em países islâmicos, o divórcio costuma ocorrer nos primeiros meses de casamento. A mulher pode ser “devolvida” caso não se mostre boa esposa – e se o casamento não é “consumado” o marido não precisa pagar pela metade dos custos dele.

              O casamento dos !Kung Bosquímanos não dura um ano – mas são casamentos arranjados – assim como muitos dos casamentos islâmicos.

              O pico não tem nada a ver com o aumento da quantidade de divórcios. E mesmo casais que apenas vivem juntos também não altera a duração.

              A paixão acaba, apenas isto. Cada cultura tem suas regrinhas sobre o namoro, separação etc. O que surpreende é que, independentemente disto, possa ser encontrado um padrão – mesmo em sociedades onde o divórcio é raro.

              Em “Tristão e Isolda” um casal bebe um elixir que os tornará apaixonados… por três anos.

              Nos Estados Unidos, a duração de um segundo casamento é… três a quatro anos!

    – Divórcio é para os jovens.

              2) O segundo insight é que os divórcios, nos Estados Unidos, são mais frequentes entre os mais jovens.

              Hoje, 10% das mulheres, ao chegarem aos 40 anos, tiveram três ou mais maridos.

    Por outro lado, apenas um terço das pessoas que passaram da idade reprodutiva se separaram.

    O padrão se repete nos outros países estudados. O pico de divórcio é entre 25 a 29 anos para as mulheres e 30 a 34 para os homens. Coincidência ou não, quando ainda estão plenas as suas capacidades reprodutivas.      

    – Divorciando-se com crianças pequenas

              3) 43% dos divórcios ocorrem entre casais sem filhos; 29% entre casais com um filho (dependente); 18% nos casais com dois; 5% com três. Casais com quatro ou mais raramente se separam.

              É compreensível, darwinianamente falando, a razão de casais sem filhos se separarem e com muito filhos, não.

    – Diagrama do divórcio

              Hoje, nos Estados Unidos, 28% das mulheres que têm mais de um filho, estes foram produzidos por mais de um pai.

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    Monogamia serial e ter filhos de mais de um pai é comum também entre culturas às quais os dados da ONU não cobrem.

    Entre os Yanomami da Venezuela, quase 100% das crianças vivem com suas mães. Os pais também estão ali – até os cinco anos. Quando é comum a separação.

    Em várias culturas, um casamento não é considerado consumado enquanto não nasce um filho. Os Tiv da Nigéria chamam este período de “casamento teste”.

    Há quem acredite que um filho possa fortalecer um casamento, mas não é o caso.          

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              Há uma “obsolescência programada” para o relacionamento de longo prazo?

              Há todo um padrão sutil, quase imperceptível, em como os relacionamentos se desenvolvem por todo o mundo. Enquanto podemos reproduzir, estamos atrás de alguém; depois, nos aquietamos. Por quê?