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A INFIDELIDADE MASCULINA

    CAP. 2 – ABALANDO O MITO: OS MACHOS

                Os machos, de um modo geral, têm um limiar mais baixo do que as fêmeas para a excitação sexual – e, assim, quase por consequência, eles têm uma propensão a se envolver em uma maior variabilidade sexual.

                A explicação biológica padrão para isto resume-se a uma questão de espermatozoides versus óvulos. Espermatozoides são “baratos”, óvulos são “caros” – em termos de custo energético para quem os produz. Uma ejaculação humana, por exemplo, tem cerca de 250 milhões de espermatozoides – isto é, enquanto em um mês uma mulher produziu apenas um óvulo, um homem ejaculando diariamente teria produzido cerca de 7,5 bilhões de espermatozoides!

                Este homem, se tivesse o poder de fazer sexo com uma diferente mulher fértil a cada dia, teria, em um ano, 365 filhos, com um pequeno gasto de tempo e energia a cada cópula. Cada uma destas mulheres grávidas, por sua vez, teria de carregar o feto (e alimentá-lo, através de sua placenta) por nove meses – e, após isto, por um bom tempo amamentar e carregar o recém-nascido para lá e para cá. 

                Do ponto de vista dos genes, o que importa é que este bebê seja capaz de crescer e reproduzir-se. De nada adiantaria uma gravidez que terminasse em aborto, ou em um bebê doente que logo morreria ou mesmo em um adulto estéril (ou excessivamente tímido ou feio, com baixa probabilidade de reprodução).

                Ou seja, todos estes fatos fazem com que a fêmea tenha de ser muito mais seletiva do que o macho enquanto escolhe um parceiro reprodutivo. Para aquele nosso garanhão, se apenas dois dos 365 bebês que gerou em um ano já vingarem (isto é, anos depois eles se reproduzirem), ele já estará à frente – em termos de “espalhar seus genes” – do que a mulher que teve apenas um bebê e das que abortaram. (Será que o gene feminino quer se espalhar?) Como o esperado, na prática, é que dezenas de seus filhos vinguem, caso este homem seja saudável, ele estará bem mais à frente até mesmo de uma mulher que teve gêmeos ou trigêmeos.

                A mulher, assim, não pode errar muito ao escolher um parceiro reprodutivo. O homem pode. Na verdade, como o esperma é tão barato (e o macho não tem que carregar a gravidez e nem amamentar), parece mesmo haver um “incentivo” para que o macho “erre”: quanto mais ele tentar se reproduzir com diversas fêmeas, mais errará (abortos etc.), porém também mais acertará – além de, copulando com várias mulheres, aumentar a variabilidade genética dos seus filhos e, assim, ter mais chances de ter alguns deles ainda mais saudáveis, charmosos etc. (e pouco adeptos à fidelidade) – aumentando ainda mais a chance de ter mais netos. (No fim das contas, para nossos genes não basta que tenhamos filhos. O verdadeiro sucesso destes genes é medido pela capacidade de ter netos.)

                Assim, uma conclusão possível é que a pressão evolutiva chegou mesmo a favorecer os machos infiéis. Se existe um “gene da infidelidade”, este provavelmente se espalharia mais rápido na população em evolução do que um “gene da fidelidade”.

                Segundo o teórico da evolução George C. Williams, esta dinâmica transformou os machos em “anunciantes sexuais agressivos” e as fêmeas em “compradoras modestas, que comparam os produtos”.

                Robert L. Trivers criou o conceito de “investimento parental”, que resume as implicações expostas acima de todos os custos energéticos necessários, para cada sexo, em relação aos seus filhotes.

    Trivers mostrou que quando há uma grande diferença de investimento entre os sexos, o sexo que mais investe (geralmente o feminino) se tornará um “recurso” valioso, disputado pelo sexo que menos investe (geralmente o masculino). Como consequência, a seleção natural favorecerá os machos que desenvolvam características que facilitem a vitória nesta disputa pelas fêmeas: caninos, chifres, mentiras, violência.  

                E se as fêmeas já se responsabilizam tanto pelo cuidado com os filhotes, os machos se sentem livres para buscar outras oportunidades de cópula, mesmo que, em algum grau, se mantenham ao lado da mãe “principal” de seus filhotes.

                Um pequeno desvio inicial de comportamento como este, tempos atrás na história evolutiva de algumas espécies, pode ter gerado um efeito bola de neve que tornou os machos cada vez maiores, suas presas cada vez mais afiadas… e seus espermatozoides cada vez menores, mas mais abundantes. Porque, afinal, os machos mais sexualmente ativos (leia-se: infiéis) provavelmente teriam mais filhos e netos – enquanto, por outro lado, os menos capazes correm o risco de morrer sem ter ao menos um filho.

                Há alguns casos relatados de inversão dos papéis. Entre alguns insetos ou entre aves conhecidas como jaçanãs, as fêmeas são poliândricas (ligadas a vários machos) e conquistam seu harém com comportamento sedutor e agressivo. Estes machos, por sua vez, fazem um investimento parental muito maior do que as fêmeas, e por isto é que são disputados por elas.

                O chamado “efeito Coolidge”[1] refere-se ao fato de o macho tender a entediar-se, sexualmente, com sua parceira fixa – e mostrar vigor renovado com a oportunidade de uma cópula com outra fêmea. O efeito é mais acentuado em espécies não-monógamas – mas mesmo aves machos socialmente monógamas envolvidas em CEPs produzem mais espermatozoides do que quando praticam uma CIP.

    Nas aves o custo da criação dos filhotes é elevado e geralmente requer o trabalho do macho, também. Assim, a poliginia não é esperada entre aves – não porque os machos não gostariam, mas porque para as fêmeas não compensaria.

                Já os mamíferos são assim chamados justamente porque as fêmeas conseguem alimentar seus filhos, pois possuem mamas funcionais. Assim os machos conseguem sustentar mais facilmente um harém, pois seu esforço para com cada filhote seria relativamente baixo.

                Mesmo assim, mesmo entre aves com tendência social monógama, a prática de CEPs pode assustar. Entre os hihis da Nova Zelândia, 80% dos ninhos continham ao menos um filhote fruto de infidelidade da fêmea!

    Mesmo muitos dos machos sem parceira (chamados de “flutuantes”) – teoricamente menos desejáveis – conseguiram fertilizar algumas fêmeas. Entretanto a regra tende ao sentido oposto: o rico fica mais rico. Isto é, os machos já pareados têm, na natureza, uma chance maior de conseguir CEPs.

                Em geral, entre animais de tendência poligínica, os machos são maiores do que as fêmeas.

                Os gorilas machos, por exemplo, são de duas a três vezes maiores do que as fêmeas. Os que estabelecem haréns mantêm três a seis fêmeas em sua órbita.

                Já entre os gibões, socialmente monógamos, machos e fêmeas são praticamente do mesmo tamanho – e há raros machos que são grandes vencedores (com mais de uma fêmea) ou perdedores (sem nenhuma).

                Homens são maiores do que mulheres, embora longe da diferença encontrada entre gorilas. Isto pode indicar uma “leve tendência” à infidelidade masculina. Ou pode ter outra explicação completamente diferente, como a divisão de trabalho, exigindo mais esforço do homem.

    Entre as espécies monógamas, em geral é baixo o dimorfismo sexual – isto é, macho e fêmea são bem parecidos, fisicamente. Aves macho e fêmea, por exemplo, comumente são indistinguíveis externamente.

    Entre as espécies polígamas, ao contrário, há grande dimorfismo – entre as aves, especialmente, os machos têm cores mais vivas do que as fêmeas.

    Porém, às vezes isto também é observado, a princípio estranhamente, entre espécies socialmente monógamas. A hipótese principal é que os machos mais vistosos conseguiriam fêmeas “melhores”. Hoje já se descobriu que estes machos também conseguem mais CEPs, com “esposas” de machos não tão vistosos.

    (Novamente, o dimorfismo humano aponta para a tendência à poligamia.)   

                Machos da ave papa-mosca-de-colar são escolhidos de acordo com o tamanho de uma mancha branca em suas testas (sinal de melhor nutrição?) – e o aumento artificial da mancha, feito por pesquisadores, transforma subitamente machos inaptos em desejados, mais capazes de estabelecer um território em disputa com outro macho de mancha artificialmente menor.

    (Alguns machos de aves ficam mais atraentes após mais velhos – ficam mais coloridos. É possível, embora não provado, que a atratividade do homem grisalho esteja atrelada ao seu sucesso em ter conseguido viver até chegar a esta idade.)

                Nestas aves – e em várias outras socialmente monógamas – o que se observou é que o sucesso reprodutivo de um macho vistoso depende mais de CEPs do que de CIPs (!), mesmo que, comparados a machos menos vistosos, a probabilidade de serem “enganados” por suas fêmeas seja menor.    

                Em espécies ostensivamente socialmente monógamas, “casaizinhos aparentemente perfeitos”, estas CEPs geralmente são conseguidas às custas de outros machos casados. A melhor estratégia, afinal, é ser pai de filhotes que serão criados por outros pais.

                Claro, a estratégia é arriscada para o macho bordejador, pois pode ser descoberto e agredido.

                O comportamento, do macho, de guarda da fêmea, é muito disseminado na natureza. Aparentemente, poderia ser confundido com amor – porém trata-se basicamente de ciúme sexual, visto que o comportamento de guarda é muito mais intenso durante o período fértil da fêmea.         

                Entre as andorinhas-de-bando, quando vivem em colônias os machos exibem um comportamento de guarda muito mais intenso do que quando o casal vive isoladamente. (Porém quando a nidificação é sincrônica, como em garças, há relativamente pouca CEPs.)

    Entre humanos, uma análise mostrou que, de 849 sociedades, apenas quatro não havia o comportamento de guarda da parceira! Em algumas, o homem observa mesmo quanto tempo a mulher gastou ao sair para urinar em um arbusto. Não sem alguma razão: uma pesquisa mostrou que quanto menos tempo uma mulher passa com seu parceiro, maior a chance de que faça sexo com outro.

                Se as CEPs fossem raras na natureza, provavelmente os machos não teriam desenvolvido um comportamento de guarda tão intenso, tão custoso, tão sofrido.   

                As andorinhas-de-barranco, totalmente monógamas socialmente, alguns dias após a formação de um par, o macho persegue a fêmea por onde ela vá – e isto ocorre mais de cem vezes por dia! Mesmo com a proteção, outros machos, às vezes em pequenos grupos, tentam abordar a fêmea em seu voo. Em aves há a chamada “vantagem do último macho” – o último a copular com a fêmea têm uma chance muito maior de fertilizar o ovo (e uma chance maior de assumi-la como parceira, quando ela ainda não é pareada). Quando a fêmea enfim sai do período fértil, o seu macho, com “amigos” também pareados, sai em busca de CEPs…

    Para que a CEP ocorra são necessários dois interessados nela. Isto é, também é necessária a existência do macho bordejador. Na verdade, até mesmo os guardiões, quando não precisam estar em guarda, possivelmente estejam bordejando por aí. (Ou seja: o macho não é confiável e sabe que seu vizinho também não, assim como sua fêmea. Estabelece-se uma guerra silenciosa entre os machos.)

    Mas para o macho, tendo de fazer uma escolha, guardar é mais importante do que bordejar – melhor garantir o certo do que tentar o duvidoso.

    As fêmeas, por sua vez, não demonstram todo este “amor”, este interesse em estar perto de seu parceiro, mesmo no período fértil. Pelo contrário, elas se mostram bastante – digamos – vulneráveis.

    Trigueiros machos foram retirados de suas fêmeas, que estavam no período fértil, por apenas 24 horas. Teoricamente são aves monógamas, mas 25% dos filhotes nascidos no experimento eram extrapar. (Quando os machos foram removidos em períodos não-férteis das fêmeas, não houve aumento do número de invasões ao seu ninho. Isto é, os machos aparentemente reconhecem e interessam-se apenas pelas fêmeas em período fértil.)

    Porém não foi todo macho invasor que foi bem-sucedido. A probabilidade de conseguir a cópula dependia de um fator básico: serem, ou não, “melhores” (maiores, mais fortes) do que o macho retirado do ninho. Quando eram mais fracos, as fêmeas resistiam.

    Os machos inferiores, coitados, além de conseguirem menos CEPs, estão mais propensos a serem traídos – e a terminarem cuidando de filhotes que não são seus. (O verdadeiro beta.)

                Já os machos superiores, tendo menor probabilidade de serem traídos, precisam se dedicar menos à guarda – e têm mais tempo para sair em busca de CEPs, empreitada em que terão mais sucesso do que os inferiores. (O verdadeiro alfa.)

                Entre os humanos, não é muito diferente: os homens menos atraentes são obrigados a investir mais tempo e dinheiro com suas parceiras do que os homens mais atraentes.

                (Por via das dúvidas, até mesmo os mais poderosos já investiram em cintos de castidade, na Idade Média – embora isto possa ser um mito.[2])

                Os machos desenvolveram várias outras estratégias, além da guarda, para tentar evitar as CEPs.

                As andorinhas-macho que retornam ao ninho e não encontram a fêmea soltam um pio alto – aparentemente eficiente em evitar algumas CEPs.

                Algumas espécies, inclusive mamíferos, deixam uma espécie de “tampão copulatório” nas fêmeas. Este é formado por parte do sêmen que coagula e fica parcialmente para fora da vagina. Antes pensava-se que seu objetivo era impedir a saída do sêmen ativo; hoje acredita-se que também sirva para dificultar a entrada do sêmen de outro.

                Aranhas machos são atraídas por feromônios desprendidos pela teia da fêmea e levados pelo vento. Após a cópula, muitos machos destroem a teia.

                O biólogo William Eberhard falou, então, da “escolha críptica[3] da fêmea”. A fêmea – ou seu organismo – seleciona qual esperma será o escolhido para fertilizar os óvulos.

                Os machos, claro, tentam interferir nesta escolha. Uma outra possível reação do macho à ameaça de CEPs é a cópula frequente.

                É mais provável que a guarda seja mais eficiente. Pois após uma guarda bem sucedida, há a certeza da paternidade. Além disto, o esperma é barato, mas não gratuito (o macho, afinal, também precisa ter um mínimo de seletividade, assim). E gastando muito com a sua fêmea, não sobra tanto para bordejar – quando ratos podem fazer a guarda da fêmea, fornecerão menos espermatozoides por ejaculação, o que demonstra o ajuste fino da equação, para o macho.

                Há casos, entretanto, em que a guarda simplesmente não é possível – a fêmea é promíscua, por natureza.

    A fêmea da zebra de Grevy tem um padrão duplo. Após o parto, permanece com um só macho. Entretanto, no período fértil, em um único dia se acasala com cerca de quatro machos. Quando os machos estão com uma fêmea (temporariamente) monógama, cortejam e copulam muito menos – e ejaculam volume menor – do que quando envolvidos com uma fêmea no seu período promíscuo.

    Já em outra espécie de zebra, a quagga, de tendência poligínica, os machos copulam menos, produzem menos sêmen e têm testículos menores do que as de Grevy.

    O que os estudos têm apontado é que a guarda é a atitude principal. A cópula frequente é a segunda alternativa, especialmente ativada quando machos e fêmeas têm de passar muito tempo separados.

    Os humanos copulam muito mais do que seria necessário para se reproduzir.

    Entre as águias-pescadoras, os machos saem para buscar alimento. Passam até 50% do dia fora de casa. Ao voltar tentam compensar o risco da CEP copulando bastante: cerca de 60 vezes por ninhada. Aponte-se que o risco de CEPs aumenta se o macho não é um bom provedor, trazendo pouco alimento para o ninho.

    Em muitas espécies, a chance de cópula aumenta após a invasão do território do par por outro macho. As fêmeas aquiescem com isto porque talvez seja mais fácil do que resistir; talvez porque queiram convencer o parceiro de uma eventual paternidade.

    Parece haver pouca coisa mais estimulante para um macho do que a possibilidade de que a fêmea possa ter cometido uma CEP.

    Entre os papa-figos, se o macho escutar o canto gravado de outro macho, imediatamente copulará com sua fêmea.

    Patos domésticos, especialmente flutuantes, observou Darwin, ocasionalmente estupram fêmeas pareadas. O “marido”, ao perceber, expulsa o invasor – e força cópula, imediatamente, com sua parceira. 

    O falcão das Galápagos vive de modo poliândrico. Quando um macho copula com a fêmea, os outros imediatamente fazem o mesmo.

    “Entre os primatas, os machos rapidamente copulam com uma parceira fêmea que recentemente copulou com outro macho.”

    Os homens ficam muito excitados com uma indicação de CEP. Alguns se excitam mesmo em imaginar – outros chegam a levar sua parceira a praticar.

    A pornografia e o voyeurismo mostram a frequência destas fantasias.

    O tamanho dos testículos é um bom indício do comportamento de uma espécie.

    Quando predomina a guarda da parceira, geralmente são pequenos; quando a tática preferida é a cópula frequente, são mais vistosos.

    As jaçanãs vivem em sistema poliândrico. Os machos têm testículos enormes, comparados aos monógamos.

    O padrão é encontrado não apenas em aves, mas também nos mamíferos em geral, incluindo os primatas.

    Há aves, como o tetraz-das-pradarias, que se reproduzem em um lek, um terreno onde os machos se exibem para as fêmeas. Estas geralmente escolhem apenas um, dominante, que geralmente fica mais ao centro da exibição. Este copulará com várias. Para os outros, pouca coisa sobra. Os testículos destes machos, incluindo o dominante, são bem pequenos.

    Gorilas, poligínicos, têm testículos minúsculos. Chimpanzés, fêmeas promíscuas, testículos enormes – Jane Goodall observou uma fêmea copular 84 vezes em oito dias, com sete machos diferentes. Seres humanos no meio termo.

    Em animais socialmente monógamos o tamanho do testículo é um indício da ocorrência de CEPs. Aves que vivem em colônias geralmente têm testículos maiores: garças, pardais, andorinhas-de-bando e a maioria das aves aquáticas.    

    “O trato reprodutor da fêmea é uma arena na qual ocorre uma competição espermática bem feroz.”

    Algumas espécies de Drosophila depositam dois tipos de espermatozoide – um longo, eficaz, e um curto, possivelmente energeticamente mais barato, porém ineficaz, cujo propósito parece ser apenas preencher o trato genital da fêmea. Em muitos insetos as fêmeas acasalarão novamente quando “perceberem” que este trato começa a esvaziar. Preenchimento com silicone em borboletas tornou-as não receptivas aos machos – aliás, em borboletas o esperma apirene (sem material genético) corresponde a 90% ou mais do volume.

    Entre insetos, assim como aves, “o último a entrar” tem maiores chances de fecundar. Isto tem implicações para o comportamento destes animais. Especialmente se o casal tem de passar um tempo separado, isto induzirá à cópula frequente. 

    Antes pensava-se que o pênis servia apenas para levar os espermatozoides ao óvulo. Hoje, com o entendimento sobre a competição espermática, considera-se que também possa ser a sua função retirar espermatozoides dos concorrentes.

    Especialmente nos insetos, o pênis é um “canivete suíço”, com “engenhocas e cacarecos adaptados para remover o esperma de qualquer macho precendente”, esperma que fica armazenado na bursa copulatrix ou espermateca. Alguns conseguem eliminar 90 a 100% do esperma previamente depositado.

    O pênis do tubarão parece uma espingarda de dois canos e antes do coito ele realiza uma espécie de ducha na vagina da fêmea.

    O polvo-pigmeu utiliza um tentáculo para realizar a limpeza da fêmea.

    A ave ferreirinha às vezes faz sexo grupal: HHM ou MMH. Quando temos HHM, um macho bica a cloaca da fêmea antes de copular com ela – nisto uma parte do esperma é expulsa pela vagina. Mais ele bicará quanto mais tempo ela passou copulando com outro. O sexo oral, entre humanos, evoluiu como uma espécie de fiscalização? Ou, pior ainda, de limpeza?

    Quais as opções para um macho traído?

    1) Agredir fisicamente a parceira ou o amante. O único benefício evolutivo é poder impedir comportamento semelhante dela, no futuro.

    2) Forçar imediatamente uma cópula com a fêmea.

    3) Prover menos cuidados com a prole, talvez maltratando-a. Pode ser negativo se parte da prole for dele.

    4) Desertar a parceira – o que só faz sentido se tiver outras opções.

    A terceira opção parece prevalecer.

    Machos de espécies onde não há muito cuidado parental masculino se importam muito menos com CEPs da parceira.

    Em algumas espécies socialmente monógamas, entretanto, o macho não reduz os cuidados parentais após uma evidência de infidelidade da parceira. Talvez as fêmeas sejam tão astutas em suas CEPs que os machos não desenvolveram uma reação evolutiva. Porém são exceções.  

    Os ferreirinha, por exemplo, contribuem com alimentos para a ninhada na exata proporção do quanto copularam com a fêmea poliândrica. Uma espécie de pica-pau simplesmente destrói os ovos postos quando ele foi removido durante o ciclo reprodutivo da fêmea.

    Assim como têm de equilibrar tem de escolher entre guardar e bordejar, os machos também terão de escolher entre cuidar dos filhotes ou bordejar, nas espécies com investimento parental. Por exemplo, o azulão procura por CEPs enquanto a fêmea incuba – depois que o ovo e chocado, se torna um pai “coruja”, pois a recompensa genética é mais garantida.

    É matemática pura. Se há muitas fêmeas férteis por perto, há a tentação de bordejar; se todas estão “grávidas”, não há muito o que fazer; se há talaricos na área, melhor vigiar a mulher; se há predadores por perto, é melhor cuidar da família. “Os machos em geral fazem o que dá melhor retorno.”

    Marmotas podem viver em pequenos grupos – e serão ótimos pais. Quando vivem em grupos grandes, estão em guarda ou bordejando – e os filhotes mal recebem atenção.

    O que se observou também é que os machos mais atraentes geralmente não são bons pais. Porém que não se fique com pena da fêmea, pois provavelmente seus filhos, que apesar de sobreviverem com mais dificuldade, também serão garanhões – logo, ela terá mais netos do que a que escolheu o “feio, mas bom pai”. Embora parte da prole destes feios não seja deles, “eles simplesmente não têm nada melhor para fazer”.

    Por fim, a cópula forçada – isto é, o estupro. Normalmente o sexo entre os animais envolve uma longe corte, sincronizada e previsível – e consensual. Entretanto, em várias espécies de animais, da mosca-da-fruta a baleias, já se observou a prática do estupro. Entre vários tipos de primatas também, incluindo orangotangos, gorilas, chimpanzés e vários tipos de macacos.

    Assim como o estupro humano comumente é perpetrado por “fracassados”, entre os animais pode haver uma tendência de que seja mais praticado por um espécime inferior.

    Porém há a curra, o estupro grupal. Por exemplo, entre os patos. Quando o macho pareado está a alguma distância, um grupo avança sobre uma fêmea – que às vezes chega a morrer, afogada. O seu par tenta defendê-la, porém logo que os invasores se vão, ele mesmo força uma cópula com ela – buscando a “vantagem do último macho”, ao menos. Como entre patos costuma haver certa escassez de fêmeas não pareadas, o macho não a abandona, depois de tudo isto.

    O estupro, entretanto, não parece ser uma tática genética muito eficiente em algumas espécies – porque geralmente ocorre no fim do período fértil da fêmea.

    Nos Estados Unidos, um terço da morte dos cônjuges se deve à infidelidade (suspeita ou real) da mulher. Em países da África parece ser maior. “E, no entanto, apesar do alto risco, a infidelidade feminina parece ser praticamente universal. E não apenas como resultado da compulsão masculina.”

    “O mito da monogamia está seriamente ameaçado, por trás de sua fachada duradoura de ficção comportada.”


    [1] Presidente

    [2] Aventuras na História · Cinto da castidade existiu ou foi tudo invenção para ridicularizar a Idade Média? (uol.com.br)

    [3] Críptica: oculta, cifrada, escondida, hermética, misteriosa. (dicio.com.br).