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A HISTÓRIA DA MONOGAMIA

    CAP. 2 – MONOGAMIA NA HISTÓRIA: COMO E POR QUE A MONOGAMIA PREDOMINOU NA SOCIEDADE OCIDENTAL?

              O antropólogo Jack Goody aponta que, na prática, a poliginia é comum e a monogamia rara, nas culturas humanas, ao menos até recentemente.

               De acordo com o atlas etnográfico, de 1231 sociedades, somente 186 são monógamas. Mais de 1000 polígamas – na prática, poligínicas – e apenas quatro poliândricas.

              Mesmo nas monógamas, entretanto, em mais de 2/3 delas há alguma fuga legal – como períodos de festas onde o sexo extrapar é permitido.

    Sociedades primitivas

              Helen Fisher acha que os pré-históricos já eram monógamos em série.

              A historiadora Stephanie Coontz estudou a fundo a história do casamento e aponta que nenhum casal seria capaz, sozinho, de sobreviver em condições pré-históricas.

              Sociedades primitivas atuais comumente são não-monógamas. Não há isto de “garantia da paternidade”. Na Amazônia, Papua Nova-Guiné e outros locais há tribos que acreditam que o feto é criado pelo esperma de vários pais. A mulher não está buscando o “macho alfa” – mas o mais bonito, o mais forte etc.

              Os Mosou, na China, são matriarcais. Na adolescência, a garota pode ter quantos homens quiser, sexualmente. Não há expectativa de compromisso e o bebê é criado na casa da mãe com a ajuda de todas as mulheres e do resto da comunidade. Os homens criam os filhos das irmãs, não os seus próprios.

              Um estudo aponta que cerca de 25% das traições em relações de longo prazo já acontecem nos primeiros dois anos destas.

    A revolução agrícola

              Engels, em “A origem da família, propriedade privada e o Estado”, seguindo Rousseau, aponta que o controle dos homens sobre as mulheres começou a com agricultura.

              Evidências genéticas, estudando o cromossomo Y, apontam que a humanidade – ou o homem, mais especificamente – tem sido polígama através da maior parte do tempo da sua história. Poucos homens espalharam seus genes entre muitas mulheres.[1]

              O Velho Testamento, nos 10 Mandamentos, precisa proibir o adultério duas vezes – por que, se não fosse natural? Na verdade, a Bíblia acaba por propagandear a poliginia – ver Abrão, Rei Davi e especialmente Salomão e suas 700 esposas e 300 concubinas.

              Barash e Lipton creem que Engels errou quando disse que os homens controlaram as mulheres para proteger suas propriedades. Para eles, os homens acumularam propriedades e poder para atrair mulheres.

              O sistema polígínico tem vários problemas inerentes – como a revolta dos homens que não conseguem nenhuma mulher. Pode ter nascido daí a prostituição – como Raabe, na Bíblia.

              A proibição dos judeus terem mais de uma mulher surgiu há apenas mil anos atrás, por influência do cristianismo. E nem todos os judeus a aceitaram. Ainda hoje é possível encontrar Judeus Iemenitas casados com mais de uma mulher.

    Cultura greco-romana e cristianismo

              Monogamia – parcial – provavelmente nasceu na Grécia, entre os que tinham direito a ser cidadãos. Mas a estes homens era permitido ter sexo também com prostitutas e escravas. Aliás, também com outros homens.

              O orador Demóstenes disse que as esposas serviam para cuidar da casa e dos filhos, as prostitutas para o prazer e as concubinas para os cuidados diários do homem.

              Na Grécia, com Platão, surge o mito da “cara metade”.

              Alain de Botton, filósofo, fala dos danos que o mito causa, quando a paixão passa e descobrimos a pessoa real ao lado de nós.[2]

              Dan Savage, escritor e ativista LGBT, diz o mesmo. Se a pessoa que estou junto se interessa em outra, ela não é meu par ideal, por exemplo.[3]

              Adão e Eva corroboram o mito.

              Jesus disse (Mateus, 19) que o que deus uniu não será separado. Algo que não existia nem no Império Romano e nem mesmo no judaísmo.

              O cristianismo ainda foi além, propondo a castidade – Paulo, na primeira carta aos coríntios. Apesar disto, alguns papas teriam filhos ilegítimos – como Alexandre VI, do século 15, que teve nove filhos com prostitutas. Festas com elas eram comuns, em que havia até concursos para quem transasse com mais mulheres. (ver relato do filho)

              No século 6, o papa Gregório I afirmou que o sexo dentro do casamento não deve ser feito pelo prazer, apenas para a reprodução.

              No século 13, o casamento se tornou um sacramento.


    [1] (PDF) A recent shift from polygyny to monogamy in humans is suggested by the analysis of worldwide Y-chromosome diversity | Isabelle Dupanloup, Antonio Amorim, and Maria Prata – Academia.edu

    [2] Alain de Botton on Love – YouTube

    [3] 3 Things We Get Wrong About love | Dan Savage – YouTube