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A CIÊNCIA DA ATRAÇÃO

    CAP. 1 – JOGOS QUE AS PESSOAS JOGAM (CORTEJANDO)

    – O corpo fala

              O etologista[1] alemão Irenäus Eibl-Eibesfeldt, observando o flerte em vários locais do mundo, notou um padrão curioso entre mulheres de diferentes culturas. Analisando as gravações, feitas escondidas, quadro a quadro, notou que as mulheres flertam com a mesma sequência de expressões.  

              Primeiramente, a mulher sorri e levanta as sobrancelhas bruscamente, abrindo bem os olhos. Então baixa as pálpebras, inclina a cabeça para baixo e para o lado e desvia o olhar. Comumente, também cobre o rosto com as mãos e ri nervosamente.

              O padrão é tão onipresente que o pesquisador acredita que seja inato.

              Outros comportamentos de flerte, humanos, masculinos e femininos, já foram observados de forma similar em diversos animais – como gambás, tartarugas etc. Enquanto os sapos se inflam, os homens enchem o peito.

    – O olhar “copulatório”

              O olhar talvez seja a estratégia humana mais impressionante.

              Homens e mulheres olham intensamente para um parceiro em potencial por dois a três segundos. Suas pupilas podem se dilatar – sinal de extremo interesse. Em seguida, baixam as pálpebras e desviam o olhar.

              Quando os dois se olham, há um efeito imediato. Isto mexe com estruturas primitivas do cérebro, ligadas a duas emoções/reações básicas: aproximação ou fuga. Você não pode ignorar que está sendo olhado – terá de tomar uma atitude. Muito provavelmente você fará algo sem sentido, como mexer na orelha – para aliviar a ansiedade.

              Os etologistas chamam isto de “olhar copulatório”. O comportamento também parece ser inato. Os bonobos o praticam antes do coito. Chimpanzés intimidam ou se reconciliam com inimigos com o olhar. Mesmo entre babuínos, cujo ancestral comum com os humanos remonta há 25 milhões de anos, nota-se o olhar “mal intencionado”.

              Talvez esteja no olhar o início do romance, e não no coração, cérebro ou genitais, pois o olhar comumente desencadeia um sorriso.

              Foram catalogados 18 tipos de sorrisos, mas apenas alguns são utilizados na corte.

              O sorriso “superior” foi o observado por Eibl-Eibesfeldt. Nele, os dentes superiores são expostos. Porém o sorriso também é observado em outras situações amigáveis, não é exclusivo ao flerte.

              O sorriso “aberto”, quando todos os dentes aparecem, é utilizado quando queremos seduzir alguém.

              O sorriso “nervoso” – observado nos mamíferos, mostrando os dentes cerrados quando encurralados – não é visto na paquera bem-sucedida.

    – Pistas universais para a corte

              Darwin foi o primeiro a se interessar seriamente pelas similaridades entre expressões faciais humanas e animais. Assim, solicitou a colaboradores por todo o mundo a coleta de informações, sobre diferentes culturas. “Como um aborígene reage a uma situação de tensão?” Etc.

              Com as respostas que obteve, convenceu-se que nossas expressões são universais e, portanto, resultado de um processo evolucionário. O trabalho culminou no seu livro “A expressão das emoções em homens e animais”, de 1872.

              Mais de 100 anos depois, o psicólogo Paul Ekman confirmou as convicções de Darwin. Ele mostrou a pessoas de diferentes povos fotos de americanos em diversas situações emocionais – alegria, medo etc. – e onde quer que fosse estas emoções eram reconhecidas.

              O sorriso parece ser algo que nascemos para fazer. Alguns bebês retribuem o sorriso da mãe apenas 36 horas após o nascimento e todos os bebês começam a praticar um sorriso social já aos três meses de idade – mesmo crianças nascidas cegas o praticam.

              E a sequência toda do flerte – isto é, o primeiro olhar, o sorriso, o olhar tímido, o balançar a cabeça, o estufar do peito – também parece ser universal.

              David Givens, antropologista, e Thimoty Perper, biólogo, foram estudar o flerte em bares e pubs americanos.

              Observaram que a corte tem vários estágios.

    O primeiro é chamar atenção. Homens ajeitam o cabelo, a camisa – diluindo a ansiedade ou mantendo o corpo em movimento. Homens mais velhos podem usar outras táticas, como o uso de relógios chamativos. Mulheres têm os seus próprios trejeitos. Os gestos de ambos podem ser exagerados, a fala pode ser mais alta do que o necessário. Babuínos machos também se tornam arrogantes frente a uma potencial parceira. O comportamento ansioso-espalhafatoso já foi notado em vários animais.

    Quase todas as mulheres usam salto. A invenção é atribuída a Catarina de Médici, ainda no século 16. O objetivo, consciente ou não, é elevar as nádegas e projetar os seios.

    – Conversa preparatória

              O segundo estágio é o do reconhecimento, que se inicia quando olhares se cruzam. Se houver reciprocidade, há a aproximação física.

              Agora é necessário falar – o terceiro estágio. Geralmente a conversa se inicia com assuntos banais – geralmente com um tom de voz mais suave do que o normal. O como é dito importa mais, aqui, do que o que é dito. Perguntas costumam gerar melhores resultados do que comentários simples, pois demandam uma resposta. Se o “alvo” sorri mais do que o necessário a alguma fala, ele também está demonstrando um sinal de interesse.

              A fala é arriscada porque entrega muita informação sobre nossa personalidade, como origem, educação etc. Atores, políticos e mentirosos habituais sabem como modelar bem a entonação para atingir seus objetivos.

              Uma pesquisa conduzida no site de encontros Match.com questionou o que é observado e relevante em uma interação. A gramática do “sedutor” é mais importante (relevante para 83% das pessoas) do que a sua autoconfiança (78%) ou os seus dentes (76%).

              Entretanto, viajantes internacionais sabem que não é necessário dominar o idioma ou sotaque local para obterem algum sucesso com as nativas – novamente, o como importa mais do que o que é dito. E todas os outros movimentos do flerte podem compensar esta pequena deficiência.

              Pesquisas já mostraram que pessoas com vozes atraentes têm mais parceiros sexuais e até mais filhos do que pessoas com vozes não-atraentes.

              Os pesquisadores notaram que vários flertes morrem nesta fase. Entretanto, quando o “alvo” começa a ouvir atentamente o “sedutor”, chegamos à quarta fase: o toque.

              O toque começa com deixas intencionais – embora muitos movimentos sejam inconscientes. A “intenção” é de aproximação: joelhos de um se voltam um para os do outros, pés se aproximam… Até o clímax: um toca o ombro, pulso ou antebraço do outro. Normalmente a mulher toca primeiro.

              O gesto parece banal ou insignificante, porém pode ser decisivo. Se o homem se afasta, a sedução acaba. Se ele demonstra que percebeu, olhando brevemente para a mão da mulher, ela pode não tocá-lo mais. se ele finge que não percebeu, ela pode tentar novamente. Porém se ele sorri ou a toca de volta, o casal ultrapassou uma das maiores barreiras do flerte não apenas humano, mas do mundo animal.

              A maioria dos mamíferos acaricia, quando flertando. Baleias azuis se esfregam com suas nadadeiras. Golfinhos mordiscam. Cães se lambem. Chimpanzés se abraçam, se beijam, seguram nas mãos.

              Se este estágio dos toques, da conversa e dos sorrisos persiste, chegamos ao último estágio: da sincronia corporal.

    – Mantendo o tempo

              No quinto estágio, homem e mulher em flerte começam a agir como espelho um do outro. A princípio, brevemente. Ele leva o copo à boca, ela faz o mesmo. Então dessincronizam. Porém, com o passar do tempo, a sincronia é cada vez maior. Movem-se num ritmo perfeito, enquanto se encaram.

              Casais que atingem total sincronia frequentemente deixam o bar juntos.

              Obviamente, em muitos locais do mundo homens e mulheres comumente não se conhecem em um bar. Porém há evidências de que este padrão de corte se repete, ao menos em parte, universalmente.  

              Entre os Meldpa, na Nova Guiné, solteiros se reúnem em uma sala e formam pares. Que cantam juntos. Eles acreditam que a harmonia, a sincronia, alcançada nestes cantos é um indicativo de conexão.

              Na verdade, a chamada “sincronia interacional” não atua apenas no flerte. Crianças observadas brincando atuam quase como um único super-organismo. Bons amigos, tomando um café, após pouco tempo começam a agir de forma espelhada. Etc.

              Esta ampla sincronia também é notada entre animais. De fato, nada é mais básico a eles, no flerte, do que a sincronização dos movimentos. Gatos circulam. Bugios fazem movimentos rítmicos com a língua. Etc.

    – A persuasão passa pelas mensagens

              É necessário tempo, cautela. Uma aproximação muito rápida, queimando etapas, pode colocar tudo a perder – inclusive a vida. Se a aranha-lobo macho se aproxima muito rapidamente da fêmea, ela pode devorá-lo.

              Perper observou que as mulheres de seu estudo iniciavam a corte 2/3 das vezes – com pistas como um sorriso, um toque etc. Entrevistando-as depois, elas disseram estar bem conscientes do que faziam.

              Ao contrário do que se possa pensar, que isto é uma novidade trazida pela revolução sexual, estudos na década de 1950 já mostravam que elas iniciavam as interações mais do que os homens.

              Porém elas agora vão bem mais além. Em 2013, 40% das mulheres americanas revelaram já ter mandado uma mensagem sexy para um homem e 36% mandaram uma foto sensual. De forma mais singela, apenas curtem uma foto ou mandam um emoji inofensivo.

              Isto vai contra a narrativa padrão e o senso comum, de que os homens são os sedutores e elas as “vítimas” passivas. O pensamento pode vir do nosso passado, do surgimento da agricultura, quando as mulheres eram apenas peões em um jogo de trocas de propriedades por casamentos, seu valor dependendo de sua pureza.

              Elas iniciam o jogo. Porém há um momento em que deve haver a chamada “transferência de iniciativa”. Isto ocorre comumente quando o casal em formação deixa o bar. Ele passa o braço sobre seus ombros. Ele a beija.

              Questionados posteriormente, os homens sabiam descrever o que fizeram conscientemente nesta parte do encontro – porém poucos se lembraram de coisas como quem tocou quem primeiramente.

              Não há, portanto, um caçador e uma presa. A dança do acasalamento é conduzida pelos dois. E terá um final feliz caso os dois dancem bem todos os passos até lá.

              De uma certa maneira, os bares americanos lembram os leks, termo sueco utilizado para designar terreiros onde pássaros se encontram anualmente para escolher seus parceiros. Não muitas espécies de pássaros têm o hábito de utilizar o lek para se acasalar.

               Cada macho passa horas ou mesmo dias se exibindo – há casos relatados em que o tempo gasto nesta manobra chegou a seis semanas. 

              No caso dos gansos selvagens, os machos chegam primeiro. Cada um demarca seu território. Então a fêmea chega e fica na borda do lek os observando por uns dois ou três dias. Enfim decide-se por um e aproxima-se do seu território. Então começam a dançar, em sincronia. Até que se acasalam.

              Há muita diferença de uma boate?

    – O jantar de encontro

              Outras duas artimanhas de sedução são universais: comida e música.

              Se um homem chama uma mulher para jantar e paga a conta, ela sabe o que ele quer.

              Oferecer comida – ou, quem sabe, pagar uma cerveja – em troca de favores sexuais parece perpassar todas as culturas.         


    [1] Etologia: estudo do comportamento animal em seu habitat natural.