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AS RAZÕES DA INFIDELIDADE

    (capítulo 4, parte 2)

    – Anatomia do adultério

              Várias forças podem empurrar ao adultério.

              Talvez o mais importante seja o grau com que o traidor está satisfeito – emocionalmente ou sexualmente – com o relacionamento. Embora para os homens a correlação seja menor.

              Enquanto isto, outras forças tentam impedir – como o risco de perdas financeiras etc.

              Homens e mulheres que tiveram boas relações com seus pais tendem a trair menos.

              Características de personalidade – como a abertura para novas experiências – podem empurrar para ou barrar a traição.

              Pessoas que se consideram mais sexualmente desejáveis do que seus parceiros tendem a trair mais.

              Alcoólatras e pessoas deprimidas apresentam maior taxa de traição.

              Crenças religiosas, apesar do que possamos pensar, não refreiam a traição.

              E alguns são apenas narcisistas. Precisam de múltiplos amantes para mostrar sua fachada brilhante.

              Contrariando o senso comum, muitas vezes o relacionamento original está bom. Porém uma terceira pessoa age como um imã, atendendo ao desejo de “expansão do self” do traidor. Uma pesquisa, feita em 1985, mostrou que 56% dos homens e 34% das mulheres traidores se diziam felizes ou muito felizes em seu relacionamento original.

              Por que estas pessoas arriscam tudo?

    – Biologia do adultério

              Ratazanas de pradaria formam pares de longo prazo. Quando copulam pela primeira vez, o sexo dispara atividade em receptores de ocitocina (no nucleus accumbens) na fêmea e em receptores de vasopressina (no pallidum ventral) em machos. Isto estimula lançamento de dopamina em várias regiões do cérebro. Isto gera sentimentos que fazem com aquele casal permaneça juntos.

              Mas variações em um gene do sistema da vasopressina faz com que alguns machos sejam menos fiéis do que outros. Humanos têm genes semelhantes. E uma pesquisa mostrou que os homens que possuem esta variante de fato são menos ligados a suas parceiras. Se o homem possui duas cópias do gene mostram ainda maior propensão para a infidelidade.

              Outros genes podem estar envolvidos. O biólogo Justin Garcia encontrou uma ligação entre certos genes que controlam a dopamina e a propensão para casos de uma noite só.

    – O experimento da camiseta suada

              Um experimento mostrou que as mulheres cheirando camisetas de diversos homens preferem aqueles com genes do Complexo Principal de Histocompatibilidade diferente do seu.

              Um estudo subsequente mostrou que mulheres casadas com homens que possuíam este complexo genético similar ao seu eram mais propensas à traição.

              A arquitetura do cérebro também pode contribuir.

              A autora sustenta que a humanidade possui três sistemas evoluídos que estão ligados aos relacionamentos: o do drive sexual, o do amor romântico e dos sentimentos de apego profundo.

              Estes três sistemas interagem um com o outro. Nem sempre, entretanto, estão bem conectados. Então é biologicamente possível sentir um profundo apego por uma pessoa e ainda assim, por exemplo, ter drive sexual por outras pessoas.

    – Por que adultério?

              O adultério é tão prevalente em todo o mundo que é provável que a predisposição a ele evoluiu durante a nossa longa pré-história.

              De uma perspectiva darwiniana, é fácil explicar a tendência do homem à infidelidade. Os que a praticavam geraram mais filhos e assim a tendência se expandiu na humanidade.

              Porém, e as mulheres? Antropologistas sempre sustentaram que, por razões biológicas, elas deveriam ser mais inclinadas à fidelidade.

              Porém a autora sustenta que homens e mulheres podem ter a mesma propensão à traição – embora por razões diferentes.

              Uma mulher da tribo !Kung, no deserto do Kalahari, casada pela quinta vez e não-fiel a seu parceiro, explica que uma mulher de sua tribo precisa estar sempre indo a locais diferentes para realizar diferentes atividades, como buscar água. Se ela vai sozinha, em um local um homem pode lhe oferecer coisas como comida.

              Ou seja, há vários benefícios. 1) Suprimento extra. 2) Política de “segurança” – se o marido morre ou a abandona, ela já tem um namorado. 3)  Se o marido tem características de um homem inferior, ela pode dar um upgrade genético a seus filhos. 4) Se ela tem filhos com vários homens, a variabilidade genética resultante pode ser favorável.

              Assim, mulheres primitivas que adotaram a estratégia podem ter tido mais filhos e a tendência se espalhou na humanidade.

    – Evolução do adultério feminino clandestino

              Para o homem, o sexo termina quando ele goza. Para a mulher, pode estar apenas começando, dada a sua capacidade de orgasmos múltiplos.

              A antropologista Sarah Hrdy, pensando nisto e avaliando também outros primatas, criou uma hipótese.

              Hrdy aponta que muitas fêmeas primatas se engajam em sexo não-reprodutivo.

    Fêmeas de chimpanzé, no estro, copulam com qualquer macho da vizinhança, com exceção de seus filhos. Isto não é necessário para que ela engravide. Fazem isto, segundo Hrdy, para amansar machos que poderiam matar o seu filho; todos os supostos pais, pelo contrário, irão agir paternalmente com o bebê.

    As mulheres primitivas talvez fizessem o mesmo. Mas em algum momento passaram a ser mais discretas – mantendo os benefícios da promiscuidade e recebendo os da monogamia social.

      – Qual sexo trai mais: homens ou mulheres?

              Nem todo mundo concorda que as mulheres são tímidas e reservadas. Peplo contrário, o costume do véu, no Oriente Médio, surgiu em parte porque os homens pensam que as mulheres podem ser altamente sedutoras. A clitoridectomia, na África, atesta o mesmo. Escritores talmúdicos no começo da era cristã diziam que era dever do marido copular várias vezes com a esposa, pois pensavam que elas tinham um drive sexual maior do que o dos homens.

              Os pesquisadores sexuais Clellan Ford e Frank Beach, dos anos 50, diriam: “Nas sociedades que não tem o padrão sexual duplo e onde é permitida uma variedade de ligações, as mulheres avaliam a si mesmas como mais ansiosas pelas oportunidades do que os homens.”

              De fato, com o declínio do padrão duplo no Ocidente, o que estamos vendo é que as taxas de infidelidade feminina cada vez mais se aproximam da masculina.

    – A mais velha das profissões

              Entre os Mehinaku da Amazônia, a pessoa mais sexualmente ativa da tribo era uma mulher que recebia carne ou peixe de uma variedade de parceiros.

              Algumas mulheres Navajo escolhem não se casar. Entretêm uma variedade de homens que, em troca, lhe dão alguma coisa.

              Muitas mulheres entram na prostituição por necessidade. Outras, sem necessidade financeira aguda, em busca de liberdade, variedade sexual – e mais dinheiro.

              No mundo animal, de chimpanzés e pássaros a insetos, observa-se que algumas fêmeas trocam sexo por alimento.  

    – Uma proposta modesta

              Um erro de impressão na Bíblia que viria a ser chamada de “maldita”, em 1805, dizia: “Adulterarás.”

              Nós humanos vivemos uma contradição. Queremos amor eterno, mas quando o fogo começa a esfriar, começamos a imaginar.

              E há poucas evidências de que a mulher evitará aventuras extras. Pelo contrário, homens e mulheres parecem exibir uma estratégia reprodutiva mista. Monogamia e adultério.

              Oscar Wilde: “Há duas grandes tragédias na vida: perder quem você ama – e conquistar quem você ama.”